quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Ela entrou na sala, entregou o pacote nas mãos dele:
- Te comprei um presente. Estou saindo da sua estante e comprei um livro pra por no lugar.
Deu as costas e saiu de cabeça erguida. Nunca mais voltou.

(texto inspirado numa conversa com minha irmã hj: 23/12/2010)

sábado, 13 de novembro de 2010

Eu estou sempre me justificando... Já perceberam? É porque eu me sinto culpada e preciso de uma desculpa, se não for pra vcs me desculparem, então eu tento desculpar a mim mesma, procuro razões politicamente corretas para meus atos politicamente incorretos. Mas o que é correto e o que não é? Quem diz o que se deve ou não fazer? Eu deveria seguir as minhas próprias regras... sem culpa. Mas me culpo quando fujo das imposições alheias e me culpo quando as sigo. Parece que estou sempre errada. Seja lá o que signifique "errado". "Quando nasci, um anjo torto / desses que vivem na sombra / disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida" (Poema de sete faces, Drummond). Acho que o mesmo anjo torto me visitou e eu só sei ser gauche.
Não correspondo às expectativas dos outros e quando correspondo, então não satisfaço a mim mesma: ou eu faço o que os outros querem como uma bonequinha e sou recompensada por isso ou quebro com as expectativas alheias e não suporto as consequências... eu não sou forte o bastante para agir por conta própria, não sem prejuízos. Eu me importo com os julgamentos, eu me importo com o que pensam a meu respeito. Mas é como a música diz: "Se eu for ligar para o que é que vão falar, não faço nada" (O Mundo, Capital Inicial). É isso. Tento me convencer disso. Eu não posso agradar o mundo! Por mais que eu queira! Nem se eu me repartisse em milhares e cada pedacinho fizesse o que os outros quisessem, nem assim eu conseguiria agradar, então, por que buscar por uma perfeição impossível? Por que me perder nessa busca? Eu deveria agradar a mim mesma em primeiro lugar e depois me preocupar se agradei os demais ou não. Não que eu não deva me preocupar com as pessoas, mas saber a medida certa de me importar. Eu não deveria pedir permissão para viver. Mas é o que eu faço! Estou aqui sempre pedindo licença, como se eu não pudesse estar aqui. Como se eu tivesse que andar sempre na ponta dos pés para não incomodar ninguém. E é tanta culpa corroendo o corpo. Tanta culpa! Culpa que me envergonha! Talvez isso explique a timidez... a cabeça baixa... os desvios do olhar... é culpa, tudo culpa! Não posso encarar as pessoas e seus olhos me condenando! Na verdade, eu sou a minha maior inquisidora! Eu já me condenei, eu mesma me sentenciei. E por isso eu mesma me puno! Por que será que eu sempre procuro algo pra sofrer? Porque eu acho que mereço a dor! Eu acho que mereço sofrer! Eu me castigo por crimes que nem sei se cometi! Eu só sinto a culpa, culpa, culpa, culpa... a culpa ecoa dentro de mim! Atordoa! Enlouquece! Culpa! Culpa! Culpa! E não importa o quanto eu tente me justificar. Eu não consigo o perdão, o meu próprio perdão. Não importa se eu tenho consciência de que eu mesma me coloco tanta culpa, culpa por algo que nem existe, que nem sei o que é. Não importa que eu saiba disso, não faz diferença. O fato é que eu não me perdôo por ser quem eu sou. Não tem o que perdoar, não é preciso perdão, eu sei. Eu sei disso tudo! Eu sei! Mas saber não me impede de sentir culpa... não adianta... e todo esse texto não passou de uma justificativa que não levou a nada, um pedido vão de clemência, uma tentativa desesperadora de fugir do castigo, mas a guilhotina já está afiada e o carrasco pronto, e eu tenho o pior carrasco: EU!

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Falei de constrangimento no último texto e cá estou constrangida por tê-lo escrito. Não sei bem porque, mas ele não está me satisfazendo agora. Acho que foi um desabafo precipitado, não sei, não era bem o que eu queria dizer, mas ele tem a sua importância, eu valorizo os desabafos, naquele momento pareceu ser o que eu queria dizer, por mais que agora não seja. Então o texto registrou um momento meu, é único e, portanto, rico. É a minha vida! Mas eu tenho vergonha da minha vida! Ok, esse assunto foi o mesmo do último texto, então por que estou me repetindo? Eu cansei de me repetir! O cansaço também é tema batido por aqui... tsc tsc... Preciso de coisas novas para me cansar! Preciso de dores novas! As velhas já encheram... É sempre o mesmo: nunca me sinto pertencendo a algum lugar! Tá na hora de trocar o disco. Tá na hora de focar noutras coisas. Tá na hora de eu começar a escrever o livro que sempre quis escrever, talvez rendesse mais do que escrever tantos desabafos... sei lá, podia voltar a escrever contos e mais poesias, mesmo que eu me frustre por não ser uma escritora genial. Ok, eu sei, eu me cobro demais! Quero uma perfeição impossível... Eu devia relaxar mais. Eu levo as coisas muito a sério. Muito mesmo! E daí se algumas coisas não saírem como o planejado? E daí se eu quebrar a cara algumas vezes? E daí se eu rir dos problemas de vez em quando? E daí se eu for ridícula? Por que eu tenho tanto medo do ridículo? E daí se eu não tenho a beleza padrão? Se meu cabelo não é igual do comercial da L'Oréal? Essas coisas não importam... há quem ache que uma pessoa vale a pena se tiver no padrão. Eu não acho, então eu não deveria querer me encaixar no padrão só pra ser aceita por essas pessoas. É tão bom não estar no padrão. Eu não sou um rótulo! Eu sou uma e sou tantas ao mesmo tempo. Eu valho a pena, poxa! Eu não deveria me sentir um peixe fora d'água por pensar diferente da maioria que me cerca. E não estou dizendo que sou melhor do que a maioria por ser diferente. Na verdade, eu sou igual, mas eu sinto como se fosse diferente. Mas igual, diferente, que importância tem? Eu sou humana. Cheia de defeitos e qualidades como qualquer outra pessoa. Cheia de sentimentos e pensamentos e contradições. E hipocrisia. E confusões e dúvidas. Eu vou ser injusta às vezes. E ser injustiçada tantas outras vezes. E vou lutar pra mudar isso. E vou sentar e não fazer nada, outras vezes. Eu vou magoar as pessoas. Muitas pessoas. E vou ser magoada muitas vezes. E desprezada. E rejeitada. E pisada. E maltratada. E esquecida. E superada. E ferida. E vou me sentir uma aberração, alguém que não merece ser amada. E meu peito vai apertar e vou sufocar de dor. E vou pensar coisas ruins de mim mesma. E vou querer acabar comigo mesma. E vou acabar se acreditar nisso. Mas aí alguém vai sorrir pra mim. Ou eu vou olhar pela janela e ver cachorros sem donos em bando atravessando uma rua e vou sorrir. Porque a vida pode ser simples, às vezes. E vou ver o pôr-do-sol e o rosa no céu. E o formato engraçado das gotas d'água no chão enquanto tomo banho. E vou sentir o vento dançando com meus cabelos. Ou fazendo rodopiar um saco plástico perdido pelas ruas. E vou abraçar meus bichos de pelúcia e conversar com eles. E vou rir por me achar tola por fazer isso. Mas vou continuar. E vou criar histórias mirabolantes e aventuras excitantes só porque é engraçado poder imaginá-las. E vou fazer confidências para o travesseiro. E vou tocar as paredes de todos os lugares que visitar só pra saber que textura tem. E vou imaginar as pessoas em situações bizarras. E rir por imaginar os amigos tomando banho ou usando o banheiro. Eu vou ver flores coloridas e sentir paz por poder ver as cores. Eu vou soltar bolhas de sabão. Muitas bolhas de sabão. Porque eu amo bolha de sabão e sua leveza! Eu vou lembrar da infância e de como era mágico ser criança. E ainda é mágico! Pois apesar de toda dor que sufoca o peito, eu ainda tenho os olhos de menina. Eu ainda sou a menina que se encanta com pisca-pisca no Natal. E que acredita em Papai-Noel. Pode falar que ele é um porco capitalista. Só que é o seguinte: a menina aqui sempre recria as coisas. O meu Natal não é o Natal cristão, o meu Papai-Noel não é o Papai-Noel que todo mundo conhece. O meu é só meu. As luzes piscando pela cidade são vagalumes. Eu amo luzes! Brancas, azuis, rosas, vermelhas, amarelas, roxas, cor de burro quando foge. A luz que for. Eu reinvento tudo. E dou o meu significado pra tudo. Você pode aceitar a maneira que as coisas foram feitas ou modelar a sua própria maneira. Eu acho mais divertido brincar com as coisas. Falando assim, nem pareço a pessoa que leva tudo a sério! Mas eu sou contraditória. E eu sou tantas, como disse. A mulher é a séria, a menina é a brincalhona sorridente. Eu sou as duas ao mesmo tempo. É, é difícil fazê-las conviver, mas é possível. Assim, dessa forma confusa... Eu sou pessimista e otimista de uma só vez. Com a mesma graça que vejo algo, enxergo sem graça. Não sei se você me entende... no fundo, todo mundo é assim assim.
Eu só sei que me encho de furor quando me sinto injustiçada e me encho de paz ao ver as gotas da chuva na janela escorrerem quase como se estivessem apostando corrida umas com as outras. E eu sinto vontade de chorar toda vez que me deparo com algo assim. E eu sinto vontade de sair pelo mundo correndo e chegar num lugar beeem alto e rodopiar com os braços abertos, sentindo o vento dominar todo o meu corpo. Mas eu também às vezes sinto vontade de me jogar desse lugar alto. E deixar meu corpo estatelar no chão. E eu sinto vontade de me rasgar. E eu sinto vontade de ficar sozinha. E sinto vontade de segurar a mão de alguém às vezes só pra ter certeza de que tudo ficará bem. E eu quero olhar as estrelas. Porque eu amo estrelas. E eu as sinto brilhar aqui dentro, já disse isso mil vezes, elas tremulam aqui, tal qual disse Clarice Lispector. Eu queria poder tocar as estrelas. Segurar uma por uma e roubar algumas. As mais bonitas. Só pra deixar as "feias" no céu pras pessoas aprenderem a apreciar o feio de vez em quando.
E eu quero dar beijos, muitos beijos. Beijar bochechas, bocas, pescoços, mãos, ombros...
E eu quero abraçar... quem for, o que for... envolver o que me cerca.
E eu quero ter mil rostos... mil corpos... mil vozes e sorrisos e risadas e choros. E eu quero que o meu sorriso seja o mais encantador para alguém. O sorriso que faz o coração parar, como diz uma música do Capital Inicial... E eu quero não sentir timidez... quero estar com as pessoas e me sentir confortável, completamente confortável e à vontade... e às vezes, quero me sentir desconfortável... às vezes quero que me deixem com vergonha, para adorarem meu rosto vermelho.

As pessoas falam de uma realidade que eu não sei sentir. Porque eu sempre fui utópica e sonhadora e fã de ilusões. Mas às vezes eu acho que quem se ilude são as pessoas que pensam que não podem ter uma vida de sonhos. É, pelo jeito, eu não levo as coisas tão a sério assim. Na verdade, quando falo em levar a sério, é porque eu sou tão intensa que quando algo me incomoda, me incomoda pra valer. Mas também quando sonho, é pra valer. Quando brinco, é pra valer. Seja algo ruim ou bom, é pra valer, é intenso. Eu sinto tudo... o problema é que de um tempo pra cá, tenho me sentido mal, pesada, mas eu quero a leveza da bolha de sabão!!! Eu quero flutuar por aí... não quero ter corpo nenhum me prendendo aqui... E eu só queria encontrar outras bolhinhas de sabão pra viajarem comigo... Você quer ser uma bolha de sabão pra partir comigo?

Pode ser fácil flutuar... só é preciso se permitir... eu vou me permitir de vez em quando, só pra variar. ;)

domingo, 17 de outubro de 2010

Tenho me sentido estranha... constrangida... Se bem que sempre me senti assim, desde que me conheço por gente eu estranho esse mundo, eu estranho a mim mesma e sinto constrangimento por estar aqui. É como se eu tivesse que pedir licença e desculpas o tempo tempo pra viver. Porque eu sempre me senti fora do lugar. Aí eu vou andando pelas beiradas, tomando cuidado pra não ser vista. Mas aí eu me encho de coragem e grito pro mundo que eu tô aqui. E depois me arrependo e a culpa aumenta. Que pretensão a minha querer que o mundo me veja! Quem eu sou? Uma ninguém... sou só mais uma vagando num mundo que não me pertence e que não pertenço. Eu não me encaixo aqui! Eu não me encaixo em lugar nenhum! Mas, ao mesmo tempo, eu queria estar em todos os lugares, em cada cantinho desse planeta, eu queria conter em mim todas as coisas! Mas não dá... eu deveria parar de desejar o que não dá. Mas viver sem sonhos é tão sem graça... E viver sonhando é desesperador...
O constrangimento não me deixa... eu sinto vergonha de mim... eu não consigo encarar as pessoas, as coisas... não suporto que elas me encarem de volta... Eu quero sumir... Mas, no fundo, eu gostaria de ser percebida, mas não da maneira que eu me encontro, mas talvez da maneira que eu seja realmente e que está perdida por aí. Eu não gosto da maneira que estou. Pois não é possível que eu seja assim, eu estou assim, apenas... por um motivo que eu não faço idéia... ou será que eu simplesmente não quero aceitar que essa Raquel seja a Raquel? O que há de errado com a Raquel? Não sei se há algo de errado, mas também não parece certo... Eu não sei... eu apenas não consigo olhar pra mim mesma e me ver! Por que eu não posso simplesmente estar bem? Por que eu tenho que arranjar uma maneira de me sentir mal? Por que eu gosto da tristeza? Por que eu não posso apenas acordar e me sentir viva? E por que tantos "porquês"? Eu procuro um sentido que não é possível achar. Uma coerência que não existe! Eu preciso viver uma coisa de cada vez. Mas eu quero atropelar tudo, maldita ansiedade!!! Eu quero ter tanto controle sobre as coisas que não me permito me perder... mas eu me perco... mas se eu não tivesse medo de me perder, perder-se não seria ruim... mas é tanto medo... eu preciso ter controle sobre as coisas!!! Mas eu queria me perder em um abraço... será que um dia vou confiar tanto em alguém a ponto de me entregar completamente ao seu abraço? Eu amo abraços... mas eles têm sido tão distantes... eu queria um abraço que fosse além dos corpos juntos, um abraço de alma, de essência, de sentimento, de pensamento, um abraço que realmente fundisse duas pessoas e não apenas tocasse dois corpos que não significam nada! Aliás, cansei dos corpos e de suas formas previsíveis... o que eu quero não tem forma!
Eu queria deixar de racionalizar... aceitar o caos e ter paz! Mas não me parece possível...
Está tudo tão distante de mim...
Eu quero ir embora... sair daqui... sair da mesmice (ou mesmisse?)... fugir do marasmo... fugir de mim... não aguento mais as mesmas coisas e pessoas!!! Os mesmos pensamentos cutucando incessantemente... a dor agulhando o peito... o ar que sufoca...
Eu vou embora antes que esmoreça de vez!
Adeus!

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Desabafos...

No dia 25/09/2010 escrevi um texto, não terminei, mas coisas que falo nele continuam sendo verdade, então vou postar assim mesmo. Depois, vou postar outros textos, um de hj e outro de 2007.

"Eu não sei muito bem o que eu quero falar, mas algo pulsa aqui dentro querendo que eu fale... qualquer coisa que seja. Eu guardo tantos segredos que eles estão me matando... A minha vontade é de gritá-los... mas eu não posso... não posso pois não arcaria com as consequências, essa que é a verdade. Eu sou covarde. Eu sou uma menininha assustada! Uma menininha que criou um mundo próprio, um mundo de ilusões! E todos que tentam entrar nesse mundo acabam destruindo um pedaço dele e a menina não quer desilusões! Mas é só com o que ela tem se deparado: desilusões! E isto está matando a menina! Então, saiam do mundo dela!!! É bem verdade que ela quem leva as pessoas para o seu mundo, mas se ela der a mão pra você e te convidar pra entrar, não aceite! Não brinque com a menina, pois ela não sabe brincar! Ela cai nas próprias armadilhas! E quem sofre é ela! E você nem se dá conta! E não é culpa sua! Mas deixe a menina em paz... é só o que ela quer: paz!" (25/09/2010)

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Cansei de mim. Estou em desavença comigo mesma, como disse o poeta Sá de Miranda: "Comigo me desavim/ Sou posto em todo perigo/ Não posso viver comigo/ Nem posso fugir de mim".
Eu não posso fugir de mim e cansei de não poder. Não posso viver comigo e cansei de viver. E cansei da minha idiotice. Cansei do mundinho de merda que eu criei pra mim. Mundinho de ilusões. Na verdade, cansei das pessoas esfregando o tempo todo na minha cara a realidade. Não cansei das ilusões, mas das desilusões. Eu poderia viver sonhando. Simples assim. Mas insistem em me fazer engolir a realidade. Eu não quero a realidade. Eu cansei da realidade. Eu cansei de falsas palavras: de ouvir e de dizer. Eu cansei de mentir. Eu cansei de me esconder atrás de máscaras. Eu cansei do meu sorriso, mas não cansei das minhas lágrimas. Eu cansei de querer ser alegre. A tristeza sempre combinou melhor comigo. Eu cansei de pensar nas pessoas. Eu cansei de só pensar numa pessoa. Eu cansei dos seus olhos azuis. Eu cansei da dependência e do apego. Eu cansei de ser patética. Eu cansei das palavras. De todas. Eu cansei dos sentimentos. Eu cansei dos meus pensamentos. Eu cansei de me sentir deslocada, de estar fora do lugar, de me sentir um peixe fora d'água em qualquer lugar que eu esteja, com qualquer pessoa que seja. E da sensação desconfortável que isso dá. Eu cansei das brigas. Eu cansei dos espelhos. Eu cansei de acordar. Eu cansei de querer chamar a atenção. Eu cansei de me fazer de vítima. Eu cansei de ser uma menininha assustada. Mas eu só tenho medo! Eu cansei da culpa! Da culpa que corrói cada pedaço de mim! Eu cansei de me sentir ridícula. Eu cansei dos desejos, das vontades. Eu cansei dos sons. Eu cansei das provocações baratas e joguinhos bobos! Eu cansei da minha timidez. Eu cansei do meu embaraço. Eu cansei da minha pele. Eu cansei da minha forma. Eu cansei da minha voz. Eu cansei das minhas reclamações e irritações. Eu cansei de ser humana. Eu cansei dos discursos, dos protestos. Eu cansei do meu olhar perdido. Eu cansei de cansar. Eu cansei de não saber. E cansei de saber. Eu cansei da gravidade. Eu cansei de ter os pés no chão. Eu cansei do amor. Eu cansei de só saber amar com raiva. Eu cansei da raiva. Mas a raiva que eu sinto de mim só aumenta. Eu cansei do ar. Eu cansei de respirar. Eu cansei de respirar fundo. Eu cansei de suspirar. Eu cansei de erguer a cabeça. Eu cansei do meu estômago. Eu cansei da ânsia. Eu cansei do aperto no peito. Eu cansei de querer agradar. Eu cansei de esperar a perfeição. Eu cansei de exigir. E de ser exigida. Eu cansei de querer abraçar o mundo. Eu cansei de me importar. Eu cansei de culpar os outros pela minha dor. Eu cansei da minha dor. Eu cansei de soltar a corda toda vez e me jogar no fundo do poço. Mas eu também cansei da superfície. Eu cansei do desânimo. E da preguiça. Eu cansei da rejeição. Eu cansei de ser amiga. Eu cansei da solidão. E cansei da companhia. Eu cansei de existir. Eu cansei de insistir nos mesmos erros. E cansei de tentar aprender com eles. Eu cansei do errado. E do certo. Eu cansei das coisas. Eu cansei da essência. Eu cansei desse texto. Cansei do desabafo. Cansei de tentar fazer algum sentido. Eu cansei do desespero. Eu cansei da desesperança. E da esperança. Eu cansei do antigo. Eu cansei do novo. Eu cansei das cores. E do preto e branco. Eu cansei de ser irresponsável. E cansei da responsabilidade. Eu cansei de crescer. Eu cansei de ser adulta. Eu cansei da idade. Eu cansei dos apoios. Eu cansei dos remédios. Eu cansei da falsa sensação de bem estar. Eu cansei da superação. Eu cansei da sobrevivência. Eu cansei do instinto. Eu cansei... Eu cansei de mim.
(04/10/2010)

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"Pulos...

Pulos desesperadores...

Ele se debate...

O chão agora é seu inimigo...

Ele se debate...se debate...

A angústia se intensifica...

Minutos de terror!

...

Os pulos já não são mais intensos...

Seus movimentos perdem força...

A luta desesperada pela sobrevivência desaparece...

Já não se debate mais...

O peixe fora d'água já não se move...

Morreu!"

(11-16/09/07)


É isso. O peixe fora d'água morreu... E eu cansei de morrer.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Sabe o disco de Newton? Aquele das cores que quando você gira rapidamente fica branco? Eu estou assim. Sinto tanta coisa ao mesmo tempo rodando aqui dentro que é como se fosse uma coisa só. E é como se o tudo fosse nada.
Eu me sinto apagando... E tudo ao meu redor está se apagando também. Já não distingo as coisas. Eu as vejo, vejo suas formas e contornos, eu as toco, mas é como se elas não existissem. É como num sonho, talvez. Estou perdendo a realidade. Estou presa em algum lugar entre a ilusão e o concreto. Eu não sinto o chão, é como se eu flutuasse e saísse de mim, mas ainda assim, eu me sinto emparedada. Nem que esse emparedamento seja da imensidão do espaço me oprimindo. E é tudo tão contraditório que sinto as coisas se anulando. Eu estou anulando. Deixando de existir*.
Não tenho ar. Estou sufocando! E as pernas tremem!
Estou entrando num estado de dormência que há muito não sentia. Sinto-me perder na imensidão. Desintegrando... É atordoante... Desespero sufocante, grito abafado. E nem adianta eu me debater. O corpo paira no borrão branco.
Eu estou tão desnorteada que não sei o que escrevo. Eu não tenho mais certezas... Não sei no que acreditar, se é que é para se acreditar em algo. Todas as minhas contradições se escancaram e é tudo caótico. E são muitas perguntas e não há respostas. Um emaranhado de idéias, pensamentos, conceitos me engole. Não há saída. Eu sabia que iria enlouquecer! E a loucura é tão solitária...


*
A morte absoluta

Morrer.
Morrer de corpo e de alma.
Completamente.

Morrer sem deixar o triste despojo da carne,
A exangue máscara de cera,
Cercada de flores,
Que apodrecerão – felizes! – num dia,
Banhada de lágrimas
Nascidas menos da saudade do que do espanto da morte.

Morrer sem deixar porventura uma alma errante...
A caminho do céu?
Mas que céu pode satisfazer teu sonho de céu?

Morrer sem deixar um sulco, um risco, uma sombra,
A lembrança de uma sombra
Em nenhum coração, em nenhum pensamento,
Em nenhuma epiderme.

Morrer tão completamente
Que um dia ao lerem o teu nome num papel
Perguntem: "Quem foi?..."

Morrer mais completamente ainda,
Sem deixar sequer esse nome.

(Manuel Bandeira)

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

"Sorria. Você está sendo analisado, julgado, massacrado. Sorria. Você está sendo apunhalado. Agradeça! Não seja mal educado. Se te derem um tapa, sorria! E dê a outra face! Sorrindo, claro! Docemente! Ingenuamente! Falsamente! Mente! Minta! Iluda! Camufle! Maquie! Mascare!
O estômago se corrompe, os ossos corroem, o peito murcha, os olhos pesam e os lábios sorriem..."

Escrevi esse texto no dia 30 de agosto desse ano, no metrô, voltando da faculdade. E é assim que venho me sentindo há um bom tempo. Eu escondo tudo, toda a minha dor, aflições, questionamentos, dúvidas, desespero, ilusões etc com um sorriso. Eu sorrio. Simples assim! É a única defesa que aprendi! Não que eu não sorria verdadeiramente, é claro que muitas coisas me fazem sorrir por simplesmente me fazerem bem, por eu gostar de algo, por estar feliz. Eu sorrio por querer sorrir. Mas eu sorrio por só saber sorrir! Na frente dos outros! Claro! Não sei porque tenho tanto medo de me mostrar para os outros. Não sei porque eu quero tanto que me vejam como uma pessoa forte, que está sempre bem. Por que não demonstrar minhas fraquezas? Por que não chorar na frente de todo mundo quando eu quiser chorar? Por que não gritar pra todos ouvirem a minha raiva? Porque eu sinto muita raiva. E o que isso tem de mais? Por que eu não digo o que penso? E por que tanto orgulho? Dizem que meu sorriso é bonito. Muitos dizem. Passei a gostar dele por causa disso. E aí eu só sorrio! E a quem eu quero enganar? É como se eu quisesse conquistar o mundo inteiro com meu sorriso! Como se ele pudesse me proteger de tudo e fazer todos caírem ao meu redor. Mas isto não é verdade! Eu sorrio e o máximo que acontece é eu sentir dor, muita dor a cada sorriso! E ninguém se abala com ele! E ele nem me protege! Só mascara tudo... e eu ando tão desiludida com o mundo... com as pessoas, comigo! A verdade é que eu sinto muita raiva de mim! MUITA RAIVA DE MIM! E finjo que a raiva é dos outros! NÃO É! É DE MIM!!! Eu estou furiosa! Meu sorriso é a minha máscara! E ela está pregada na cara... não sai. E aí que sorrir virou banal. E eu quero sorrir verdadeiramente, porque eu amo sorrisos! E toda vez que o sorriso é falso, eu morro. Porque, sim, eu posso morrer várias vezes. Já morri muitas! Nem dói mais morrer! Morrer não é o problema! Sorrir é! Sorrir dói! E eu preciso reaprender a sorrir! E quando eu digo sorrir, não falo em dar risada. Mas eu dou risada! E piora tudo. Porque eu também dou risada falsamente! Porque também é a minha defesa! A música já dizia "mas rir de tudo é desespero". É! É DESESPERO! Eu rio de tudo! É bom rir! Eu amo rir! Eu rio porque dá a falsa sensação de bem estar! Porque tudo parece mais fácil quando se ri! Porque o som da risada rompendo o silêncio me acalenta! Mas é falso! Tudo falso! Eu quis tanto me proteger dos outros, que não me protegi de mim mesma! Porque eu me firo! Eu me rasgo! O sorriso é um rasgo! Olha no espelho! Olha como o sorriso rasga seu rosto! Mas eu sempre gostei de me sentir rasgar! Eu sempre gostei de me punir! Eu sou culpada! Ou eu acho que sou culpada! Eu me culpo por tudo! Por que tanta culpa? Eu me culpo por sorrir! E eu não consigo nem olhar as pessoas mais! E eu as amo tanto! E as odeio tanto! Porque tudo em mim é intenso! Mas eu quero ficar na superfície! Eu quero que você só veja a minha superfície! Mentira! Nem a superfície! Se você não me visse, seria melhor! Mentira de novo! Eu queria que você me visse nua! Nua de culpas, de dor. Mas acho que é mentira outra vez! Eu só sei mentir! Fingidora profissional! E eu menti tanto que eu nem sei mais quem eu sou. O que eu quero? Eu não sei me relacionar com as pessoas! Deve ser porque eu não sei nem aguentar a mim mesma! Eu não sou livre de mim! E é por isso que liberdade é algo utópico! Você não é livre, não importa o quanto te digam que você tem escolhas! Elas são falsas! Você não é livre de si próprio e você é a sua pior prisão! Falar isso hoje, justo hoje (depois de ter visitado o Memorial da Resistência) parece ridículo! Mas falo de outra liberdade, meus caros! E até a palavra liberdade está presa no seu conceito, na sua significação... sempre presos... as prisões só mudam... meu sorriso é o meu pior carrasco. A cada "tudo bem" dito, é uma parte arrancada de mim... a cada mentira, é uma estrela que se apaga. Porque eu possuo estrelas. Elas brilham e tremulam aqui dentro! Elas doem! E todo o brilho delas ninguém vê! E eu que pensava que meus olhos diziam muito! E por isso eu nunca deixei as pessoas olharem muito pra eles! Pra não me descobrirem! Mas fiquei tão craque em camuflar, que meus olhos não dizem mais nada! Tudo o que têm a dizer está na parte de trás deles! Na frente, não tem nada! E eu não queria ter este corpo! Eu queria ser um borrão! Uma mancha! Uma impressão... odeio ter forma!
Eu estou perdida! Acho que agora entendo O Grito... ou não... eu não sei de mais nada... eu odeio essas palavras todas! Odeio que não posso materializar o que sinto ou o que não sinto... nem sei se sinto... eu só consigo pensar enquanto escrevo é no que as pessoas estão pensando disso tudo! E eu odeio isso!!! Porra! Odeio me preocupar com o que os outros pensam! É por isso que eu me fecho! Mas aí eu escrevo tudo isso aqui como uma tentativa de abertura. Mas será que realmente estou me abrindo? Essas palavras soam vazias pra mim! Não acho que ainda estejam me mostrando... porque eu só escrevo o que eu acho que você deve ler e saber. As outras milhões de coisas que estou pensando e sentindo enquanto escrevo, eu simplesmente não te mostro. Mas são as coisas que mais queria mostrar. Eu nunca vou te mostrar! Fingidora profissional! Aí eu respiro bem fundo... e sorrio! E sei que vou continuar fazendo isso até o fim! E você nunca saberá quando eu realmente estarei sorrindo por querer sorrir! É insuportável conviver comigo! Se você ainda não se deu conta disso, dará em breve! É insuportável! Mas você não se deu conta ainda nem do que eu estou falando aqui! E sabê por quê? Porque eu respirei fundo e sorri nas entrelinhas! E porque amanhã eu vou respirar fundo e sorrir. E depois também... e também...
Sorrir... só rir... rir... ir... me fui e me perdi. Mas continuo sorrindo e te convido a sorrir comigo. E mesmo quando eu chorar... estarei sorrindo. Porque o choro é um sorriso também.
E se você vier me perguntar disso tudo, eu vou sorrir e desconversar! Eu sou patética! E eis a gargalhada final...

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Bastão?
Bastam!
Tum! Pá! Hey!
Não pode cair.
Mas caiu.
Caiu.
Tum! Pá! Hey!
Bastam!
Basta!
Bas... tum... pá... hey...
Minha vez! Eu não quero!
A metáfora do bastão é a mesma da bola: "passa a bola!"
Não! Não passem a bola pra mim!
Hunf...
Por mim o bastão sempre cairia e a bola ficaria no canto...
Não preciso falar!
Blá!
Blá!
Blá!
Não preciso que me passem a porra de um bastão pra que eu tenha que falar!
Já passou pela suas cabeças que eu não quero falar? Pelo menos, não do modo que vocês acham que é falar... Eu falo o tempo todo. Infelizmente, as pessoas não aprenderam a me escutar, mas eu, eu tenho sempre que tentar me adaptar aos outros. Eu quero que os outros explodam com o seu blá, blá, blá irritante!
Eu escrevo... sim, não deixa de ser um monte de blá, blá, blá, mas convenhamos que as suas vozes irritantes e a minha voz irritante, as nossas vozes irrrr...rrri...TANTES, argh, ficam, ao menos, tolerantes quando só ecoadas no silêncio dos pensamentos...
Pensamentos...
Tenho aos montes! De todos os tipos e tamanhos! Freneticamente, eles correm... vocês acham que no meio dessa confusão, um bastão, um simples bastão de merda dado a mim vai fazer com que eu pegue um desses pensamentos e simplesmente abra a boca e o diga, assim, sem mais nem menos, jogado? Hahahaha... tenham dó!
Se vocês adoram o som do blá, blá, blá, eu entendo, mas eu não gosto. Quando essas vozes falam, as palavras soam vazias para mim. Incluse a minha própria voz. Ela não me diz nada! Minha voz não é nada! O som dela, quando emitido, rasga toda a essência que possa existir, qualquer fiozinho de sentido. Minha voz destrói o que quero expressar. Prefiro a minha voz escrita. Ou pensada! Nunca dita!
Eu estou agressiva. E não é pra menos! Tenho raiva do "falar". Do "escrever" também, diga-se de passagem, mas esse, eu ainda tolero. Chegará o tempo que escrever me será tão repugnante quanto falar... e pensar será ainda mais asqueroso... aí viver se tornará insuportável... pensando bem, bom que seja insuportável. Estou cansada de suportes. As palavras suportam ou tentam suportar o abstrato. Eu quero o insuportável! O indizível! Eu quero não ter que cercar de conceitos tudo o que eu sinto. Essa forma que sufoca. As palavras sufocam. Vejam quantos pontos finais nesse texto, quantas vírgulas, reticências... pra quê? Isso tudo só reprime...
Reprime!
Oprime!
Imprime!
Prime!
Rime!
Não sou livre! Não serei livre! Não posso fugir de mim... vocês podem? Não fugir de mim, mas de vocês mesmos? Vocês já tentaram fugir? Vocês já quiseram fugir?
Sumir... ser transparente... ser o nada... o tudo... não ter forma... não ter limite... NÃO DÁ!!!!!!!!
NÃO DÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁ!!!!!!!!!!
Grito em vão... do que adianta?
No final das contas, o bastão ainda vai estar lá!

terça-feira, 25 de maio de 2010

Vontade estática

Estática!
Está!
Ânsia!
Está!
Pá!
Parado!
Intacto!
Tato!
Chão!
Pé!
Imóvel!
Ânsia!
Pulso!
Pulsa!
Interno!
Externo!
Estático!
Está!
Tá!
Pá!
Fica!
Cá!
Não!
Não sai!
Bu!
Nada!
Dá!
Dá?
Não!
Por quê?
Quê?
Trava!
Vá! VÁ!
Não!
Cá!
Apenas!
Pena!
É!
É!
És!
Tá!
Estático!
Estática!

(Raquel Zichelle - 25/05/2010)

segunda-feira, 17 de maio de 2010

"Professor" sair gritando com os alunos no meio do corredor depois de uma apresentação, com o público ainda lá, é um desrespeito muito grande. E mais, é anti-ético e anti-pedagógico. Para ser um educador não basta ser um artista brilhante. Eu acredito na educação sem hierarquias, na educação que coloca o professor e o aluno no mesmo patamar, sem autoritarismo, sem superioridade, sem imposição. A educação "cala a boca e me escuta" já deveria estar ultrapassada. Concordo com o que diz Paulo Freire, "educar não é transferir conhecimento", então não me venha impor as suas verdades achando que eu tenho que aceitar passivamente. Não venha berrar as suas ideologias querendo enfiá-las goela abaixo. "Teatro é sagrado", ele gritou. Eu concordo, mas ele é sagrado por ser uma arte que é maior do que nós mesmos, maior do que nossos egos, maior do que ter seu nome em jogo (como ele tanto se preocupou). Mas se o "sagrado" tender ao fanatismo, dogmatizando a arte, colocando verdades absolutas e inquestionáveis, a arte deixa de ser, ao meu ver, arte. Eu, humildemente, escrevo essas palavras. Eu estudo e faço teatro há pouco tempo, o que eu sei se torna insignificante perto de tanto conhecimento que alguns artistas possuem (embora eu ache que nunca ninguém vá realmente saber teatro, arte pra mim não esgota o seu saber, é isso que me fascina), eu tenho a consciência de que nada sei, e quero passar a vida inteira aprendendo (e ensinando também, pq sou daquelas que acha que só se ensina aprendendo e vice-versa) e espero morrer ainda com aquela vontade de aprender. Se eu chegar ao ponto de achar que detenho verdades absolutas e por isso eu posso impô-las pras pessoas, então, minha vida não fará mais o menor sentido. Se eu achar que um aluno meu está indo para um caminho no qual EU não acho o melhor a ser seguido, o que eu devo fazer enquanto educadora é orientá-lo, ou melhor, apresentar para ele outros caminhos e deixar que ele pense, reflita e faça as suas próprias escolhas. Eu devo estimulá-lo a questionar, a pensar sobre as coisas e não berrar simplesmente: "NÃO FAÇA ISSO" e ponto final. Eu me questiono todos os dias sobre o que é arte, o que é teatro e não encontrei uma resposta que me satisfizesse (e acho que não terá uma só resposta), e acho que ninguém pode dizer pra mim o que é. NINGUÉM mesmo! Desculpe-me se eu não aceito imposições, se eu questiono (mesmo que internamente) tudo, TUDO, o que me dizem. Só assim eu saio do lugar, só assim eu aprendo! Aceitar o que o professor diz não me ensina absolutamente NADA.
Certamente, tudo isso que escrevi é questionável, apenas apresentei a minha maneira de ver a educação, mais especificamente, a educação de teatro. E também quis desabafar, pois fico profundamente abalada (e revoltada) quando um "professor" toma atitudes que, ao meu ver, podam o aprendizado em vez de estimulá-lo. E o pior, quando estas atitudes são tomadas pela pessoa que você menos esperava, pela pessoa que você tanto admirava. Por isso, volto a repetir, ser um artista brilhante não faz de você um educador. Mas é lamentável que numa ESCOLA de teatro se priorize o artista brilhante e se negligencie o educador.
É com profunda tristeza e decepção que finalizo este texto.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Sinto que estou fora de mim... como se eu não pertencesse ao meu próprio corpo, é como se não existisse corpo... nenhum corpo... nem o meu nem de nada. Eu vejo as coisas concretas e suas formas, eu vejo a minha forma, mas o que vejo não é o que sinto... não sinto as formas, os contornos, é como se tudo fosse uma coisa só, uma mancha, um borrão. Como se eu me misturasse no "Tudo" e por fazer parte do "Tudo" eu fosse "Nada". É como se eu não existisse. Não é estranho existir sem que se sinta existindo? Eu me olho no espelho, eu vejo meu rosto. Ele tem uma aparência engraçada, mas este rosto não significa nada, seus traços, suas feições, nada me dizem... só são engraçados... eu me vejo como se estivesse vendo outra coisa, outro alguém, porque eu não existo... ou melhor, eu não sinto a minha existência. Eu não sinto a existência de nada. Entre o que eu vejo e o que eu sinto há um abismo. As dores que eu sinto não são minhas... as dores são ausências... as dores são faltas... não se sentir deixa buracos... achava que a dor me preenchia, que doía por estar viva. A dor é só o buraco... o vazio... eu não me sinto... não sou um corpo no espaço... sou apenas o espaço... transparente...

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Eu nasci no mundo errado. Sim, errado. O lugar que deveria me acolher não parece em nada com este aqui. Só não sei se o meu lar está longe ou perto daqui... deve estar longe... se estivesse perto, acho que este mundo de cá seria, pelo menos, um pouquinho influenciado pelo de lá e não seria um lugar tão ruim de viver. Na verdade, neste mundo aqui, não se vive; no máximo, se sobrevive. No mundo de lá, se supervive. Eu queria superviver. Deve ser bom. É, deve... não sei... eu nem sequer vivo, quanto mais superviver... Mas imagino que a sensação de superviver seja a de estar com a pele arrepiada o tempo todo. Aqui, a pele só sente o peso de tantas imposições sem sentido... sem limites... Aqui a pele tem cores... e os habitantes brigam por causa delas. Eu ainda tô tentando entender o porquê. Mas neste mundo não se tenta entender os porquês... se aceita os porquês. Como eu não sou deste mundo, nasci aqui por engano, eu tento entender. Mas não é fácil. Dentre bilhões de pessoas (aqui, os habitantes são chamados assim), só poucas tentam entender as coisas. É que elas nasceram aqui por engano também... É, acontece! Eu não sei se as pessoas me consideram como uma "pessoa" também. Acho que quem nasce errado aqui, não é bem vindo. Eu não tive culpa, mas elas não perdoam. O que eu falo não é entendido por ninguém. E eu também tenho dificuldade de entendê-los. No meu mundo, aquele em que eu deveria viver, os habitantes se entendem, se respeitam, se amam, pensam. Aqui, não se pensa. Eu acho engraçadíssimo. Eu conheço o meu mundo, tenho dentro de mim lembranças (mesmo que nunca tenha estado lá), só não sei onde ele está. Onde ele está? Será que um dia eu vou para lá? Não sei... acho que quem nasce no mundo errado fica preso nele. Pra sempre! PRA SEMPRE! Tenho saudades do mundo em que eu nunca estive, mas é como se eu já tivesse estado. Que estranho... eu quase posso sentir a pele arrepiar... mas não se arrepia aqui... este é o mundo do não. "Não se... aqui!", se este mundo tivesse uma placa na sua entrada, seria esta. O mundo de lá não tem nome, não precisa, mas "lá se...", é o que posso dizer. No meu mundo se...

quarta-feira, 14 de abril de 2010

(Des)Aparecida

Fitas, cores, risadas, danças, tambores, músicas, barulhos... ruas agitadas, barraquinhas, fantasias, doces, salgados, cavalos, bandeirinhas, presentes, pessoas. Amigos, recém-amigos, colegas, amores... burburinhos em cada esquina, cervejas, cadeiras, sinos pela cidade, mais risadas, fotos, confusão, cansaço, chuva, ônibus, jornais, confissões, rostos vermelhos, blusas jogadas, beijos...

Menina!

Uma menina que contrapunha com o cenário! Dentro dela não era agito! Por mais que ela batesse o pé acompanhando o ritmo externo, internamente ela era mansa, calma, mole, flutuante. A menina era como o pôr-do-sol. Anunciava a noite que não demoraria a chegar! A menina estava em "slowmotion", enquanto tudo ao redor fervia. A ebulição externa não importava! O concreto não a satisfazia! O possível não a interessava! Era o impalpável que ela queria! É o que ela sempre quer! Por mais que doa! E dói! Ela sabe! Ela bem sabe...

Lágrimas testemunhadas somente pela janela, sua leal companheira!
Lágrimas que terminavam de apagar o rosto da menina! Na garganta, o ar embolava preso à parede...

Sorrisos falsos... rosto (ou espectro dele) erguido... a despedida!
Desaparecimento...

A menina sumia e cada parte arrancada de seu corpo doía!


E ainda dói!



Ela sabe!





Ela bem sabe...

terça-feira, 30 de março de 2010

Havia um Papai Noel pendurado, estático, esquecido na janela fechada. Abandonado no vidro empoeirado. A roupa vermelha igualmente empoeirada.
Sem pisca-pisca como companhia, o Papai Noel repousava sobre o vidro, pertencia a ele agora. Era parte da janela.
Sua escalada pela casa fora interrompida permanentemente. Falsos presentes intactos no saco preto. As pequenas mãos presas ao fio. Como numa foto, o bom velhinho restava parado num instante prestes a concretizar. O Papai Noel ficara lá suspenso na eternidade.
Esta cena foi contemplada pelos olhos de uma menina também abandonados numa janela. A diferença era que essa janela rodava a cidade e a menina com os olhos esquecidos no vidro acompanhava a paisagem que se impunha a ela. De tudo o que viu, o Papai Noel foi o único que alegrou os olhos solitários presos à janela. E a menina jurou amar o Papai Noel pra sempre!

quarta-feira, 24 de março de 2010

J'ai vu un garçon... il m'a souri... il est réel? Si je toucher son lèvre, quel goût je vais sentir? Je veux manger son sourire... je veux déguster son essence, lentement... len...te...ment...


(Excuse-moi pour mon français... =/)

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Eu preciso escrever... assim como muitos, é na escrita que encontro uma maneira de despejar minhas aflições. E são muitas! Acho que sem aflições eu seria como um boneco molengo jogado no canto do quarto, quieto, dobrado sobre o próprio corpo sem vida... São as aflições que inquietam-me e, embora eu saiba que são elas que me movem, preciso tirá-las de mim, como se eu desejasse ser o boneco jogado no chão. Tentativa vã. Não se pode acabar com as aflições, não com as minhas. Engraçado é perceber que eu já me senti muitas vezes como uma boneca sem vida, mas por qualquer outro motivo, nunca pela falta de aflições! Desculpem-me pelo "lenga-lenga", mas rodeios fazem parte da minha escrita. Não sou uma pessoa direta. Sempre preferi as entrelinhas, o que se diz às escondidas. Talvez por isso que eu goste tanto de olhares. Eles sempre escondem algo, mas clamam para serem descobertos, flagrados... e é um desses olhares que me aflige no momento. Estou obsecada por um. Um que nunca cruzou com o meu diretamente, um que nem sabe que eu, a garota das entrelinhas, existe! Clichê! Não escrevo novidades! E não tem como eu descrever o olhar sem cair na mesmice romântica. Por isso, não escreverei! Mas sem alardes, afinal, continuo a mesma patética de sempre: não me apaixono por pessoas, mas por sonhos, fantasias, clichês, heróis das páginas de livros, sorrisos, olhares, imaginações! O intocável, o inalcançável, o inatingível! São esses, meus caros, que fazem meu peito estreitar e sufocar! Se eu falar que amo você, não se deixe enganar, eu amo a imagem que eu criei de você. Eu amo o pensamento que tenho a seu respeito, o sonho que molda, a meu bem entender, você! Eu amo o irreal! Não amo a carne ou o osso, amo o sorriso e o olhar porque não posso pegá-los! Porque atrás deles há uma essência que ninguém toca, e eu desejo possuí-la! E o que eu amo é o delírio de tê-la! O que eu amo esvanece no ar... o que eu amo é sublime, transparente... O que eu amo é um olhar que nunca saiu da tela da televisão ou do cinema! Da página amarelada ou da foto envelhecida...
E eu caí na mesmice romântica... Talvez porque eu seja romântica. E seja a mesma!

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Incomoda-me a impertinência das pessoas... pessoas são tão intrometidas... e cansativas. Estou cansada de todas elas, todas, todas! Até de mim eu canso! Tão repugnante... como uma barata... tenho vontade de pisotear-me. Pisar em todos, também. Todos insetos, todos asquerosos... argh! Tenho asco de todos nós! Somos todos solitários, mas procuramos desesperadamente por alguém. Pra quê? Ninguém acaba com a solidão de ninguém! Mas um ser humano fica tão mais desprezível na presença de outro ser humano... fica tão mais insuportável! E dá aquela gargalhada estridente... um monte de insetozinho rindo junto... tem coisa mais grotesca e deprimente? Riem do quê? O que tem tanta graça? A própria desgraça? Sim, isso é algo engraçadíssimo, mas não é disso que riem... Riem da repugnância alheia... Isso é tão sem graça pra mim... Se vou gargalhar, que seja de mim mesma, há tanta podridão em mim! Eu não tenho mais medo de encarar o meu próprio horror... o que é terrível para meus olhos é ver tanta gentezinha junta! Chego a estremecer de medo, de nojo, de pena! E a gargalhada... essa dói nas entranhas... aquele som penetra nos ouvidos como se arrancasse tudo por dentro, até chegar no cérebro e dilacerá-lo! Tenho horror às pessoas... desprezo todas... e a mim! Pessoas são um amontoado de estrume... e isso ainda chega a ser um elogio... um monte de bosta jogado num canto! E isso é o máximo de admiração que alguém inspira em mim!

domingo, 24 de janeiro de 2010

O coração palpitava freneticamente, não cabia mais no peito e tentava sair pela garganta. Sem sucesso, é claro. Ficara entalado! Então, numa ânsia desesperada para fazer o coração sair, o estômago tentava empurrá-lo, fazia força, muita força e nada, o máximo que conseguiu foi fazer sair um pouco de suco gástrico. O coração continuava a saltar, porém, diminuíra um pouco o ritmo, bem pouco. Mas suficiente pra acalmar o peito que não mais tentava expulsar o órgão que se agigantara! O peito passou a conter as batidas, a aguentá-las e forçá-las a diminuir lentamente... O remédio que tomara também ajudou, é claro. O remédio foi para o estômago, coitado, tentou tanto empurrar o coração que se cansara e enfraquecera. E o remédio dava sono, o que ajudava a acalmar o corpo. Quem via de fora nem imaginava a batalha que acontecera dentro. Que sufoco aquele corpo passara!

E tudo isso por ansiar demais! Se soubesse ser paciente, o corpo não precisaria sofrer tanto, se o coração se mantivesse forte, inflexível, sempre a bater no mesmo ritmo não cedendo aos apelos da expectativa, o peito seria sempre grande o suficiente para cabê-lo, a garganta não sufocaria e o estômago não precisaria empurrá-lo, no desespero de salvar o corpo da falta de ar! Mas o corpo é impaciente! Seus anseios trazem sequelas... na boca, o gosto sempre amargo; no estômago, o enjoo, a náusea, a dor; no peito, o aperto... E a constante falta de sono! Precisa sempre recorrer a remédios! O corpo já fraco, enfraquece ainda mais! Embora o rebuliço que acontece todos os dias dentro dele o faça parecer vivo, na verdade, falta vida em suas veias! E o cansaço toma conta cada dia mais desse corpo... e tudo isso por ele não saber como esperar, por não saber não ansiar demais! Tudo isso por não viver cada segundo plenamente, sem pulá-lo... por não viver o presente sem pensar no amanhã! O corpo anseia pelo amanhã e esse é o seu veneno letal!

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Eu a perdi de vista... Não importa o quanto eu devore seus escritos ou os outros me falem dela, eu a perdi... Não, ela nunca foi minha, mas eu sentia sua presença constantemente, mesmo quando ela não estava ao meu lado, nos ligávamos pelo o que sentíamos, pela dor que corroía o peito e sabíamos bem como era. Agora, a dor dela não é a mesma que a minha. Nem os medos que ela sente são os mesmos que sinto, nem as paixões que ela tem, eu tenho. Nada... Eu não sei mais quem ela é, o que ela sente... estamos distantes... e isso me deixa triste.
Porém, talvez eu deva deixá-la ir... ela escorreu pelos meus dedos e não tem mais como não deixar que ela escape... eu não soube segurar com força... mas ela não é do tipo que você segura... ela flui... ela escapa pelas fendas, quaisquer fendas... ela se mistura no ar, se dissolve na água, se absorve na terra... ela não pertence a ninguém, só ao mundo... E eu o invejo por tê-la e eu não!

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Meu blog é uma espécie de confessionário, um lugar onde eu posso expressar sentimentos profundos e escondidos, mesmo que mascarados. Porém, por mais que seja um lugar de confissões, não sinto plena liberdade de escrever tudo o que tenho vontade. "As pessoas vão ler", penso. "O que elas vão achar disso?", penso mais um pouco. Meu problema é pensar. Se eu não pensasse talvez fosse livre. Pensar é uma prisão! Se eu não pensasse tanto, talvez conseguisse ser espontânea, não teria um filtro me dizendo o que devo ou não escrever, o que as pessoas devem ou não saber. Pensamos demais, e nos reprimimos. Se eu deixasse as pessoas lerem meus pensamentos, com certeza se escandalizariam. Porque se veriam nesses pensamentos. Se identificariam. O choque seria porque veriam seus segredos escancarados por aí! E não pode!

Eu falo de dois tipos de pensamentos, aquele que pensa as coisas mais sinistras, bizarras, pornográficas, pervertidas, maléficas, cruéis, incestuosas; e aquele que quer banir todos esses. Esse sim é a nossa prisão! Esse é que fica cutucando, dizendo: "olha lá hein, olha o que você vai fazer. O que o outro vai dizer disso? E a sua reputação? Olhaaaa bem. É pecado isso hein, se fizer isso, você é uma pessoa horrível". Não que às vezes ele não tenha razão, mas ele acha que pode controlar tudo e que pode te escravizar, sempre sob a máscara do bonzinho, do protetor: "faço isso pro seu próprio bem. Imagina se você fizer tudo o que pensa?". Mas e a nossa liberdade onde fica nisso tudo? Talvez a gente não deva mesmo fazer tudo o que pensa, mas e falar tudo o que pensa? Eu posso pensar que tô matando uma pessoa ou transando com várias no meio da rua. Eu não preciso realmente fazer isso, mas não posso falar?
É engraçado pensar que pensamentos reprimem pensamentos. Os que reprimem acabam me enlouquecendo de tanta imposição; os reprimidos me enlouquecem de tanta repressão.

Ahá. Acabei de me dar conta de que existe um terceiro tipo de pensamento. Afinal, se não fosse por ele, eu não estaria escrevendo isso tudo agora. O reprimido não tem forças e o repressor não me deixaria falar contra ele, certo? Então há o pensamento intermediário. Hum...então há uma saída? Ou ele é só um joguete que o repressor faz pra me confundir? Pra me dar a sensação de certa liberdade, quando na verdade ele me controla mais? Acho que seja qual deles for, eu sou só uma marionete da minha mente. E ser ciente disso faz parte da manipulação.
Se existe uma saída, ela se dá por meio dos instintos. Os outros animais os tem mais apurados, nós temos instintos também, mas eles se enfraqueceram porque somos condicionados a pensar antes de agir. Pensar, pensar, pensar. Só escrevo porque penso.
E esse texto foi pensado e repensado enquanto escrito, coisas foram apagadas, palavras foram substituídas. Não consigo fugir do filtro do pensamento.
O fluxo de idéias aqui aparenta ser espontâneo, mas não é. Nunca é.
E quanto mais eu penso sobre isso tudo, mais me enrolo em milhares de redes de outros pensamentos.
Não dá pra fugir.
Fim.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Primeira postagem de 2010. Não que isso tenha alguma importância, esse não será um texto relevante pra vida de ninguém, será apenas mais uma tentativa de expressar sentimentos, devaneios, anseios, desesperos, angústias e (por que não?) esperanças...
Eu ando com os nervos a flor da pele, angustiada e ansiosa. Em parte, boa parte aliás, por causa do vestibular. É só uma prova, dizem. É, realmente, é uma prova. Uma prova que, na minha opinião, não prova nada. Não prova se eu tenho conhecimento ou não, se eu estou apta a cursar uma universidade como a USP ou a Unesp e assim vai. O máximo que ela prova é se você consegue naquele dia se sair bem. Ponto. Se você é uma pessoa calma, provavelmente vai se sair melhor do que muita gente que se preparou pra valer durante o ano todo, mas que não é uma pessoa calma, não é uma pessoa que consegue controlar a ansiedade, o medo, a tensão. Bom, mas é uma concorrência né e vale tudo. Portanto, se você não controla suas emoções, "baubau" pra você, presta vestibular de novo. As vagas são poucas e muita gente quer estudar, então ou você entra no esquema ou se dana. E quem liga? O pior é a cara de pau de falar que o conteúdo cobrado é o do ensino médio. Aham, Cláudia. Ensino médio de quem? O público que não é. Ah, e como se não bastassem as provas gerais, alguns cursos ainda têm as provas de habilidades. O meu, por exemplo. E funciona do mesmo modo, quem não controla as emoções, se ferra e se ferra bonito. Ah, e os tímidos só se ferram, como eu! Quem liga para os tímidos? Eles que se fodam. Os tímidos têm que aprender a não se mostrarem tímidos, caso contrário, tchau! Seja numa entrevista de emprego, numa prova oral, numa conversa banal, quem é tímido só sai perdendo! E se você se justifica como tímido, as pessoas ainda falam: "você não pode usar isso como desculpa". Desculpa do quê? Quem aqui está se desculpando? Eu não me desculpo por ser tímida! Vocês que deviam se desculpar por pisotear nos tímidos e cobrar deles algo que nem deveria ser cobrado. Por que os tímidos é que têm que se adaptar à situação, às pessoas ao redor e não elas aos tímidos? Aí viram e dizem pra você: "você se faz de vítima". Eu não me faço de nada. Eu sou o que sou e vivo na pele as dificuldades impostas pelos não-tímidos. É fato! Tanto é fato que na prova de transferência que eu prestei tentando passar de Letras pra Artes Cênicas na USP, os tímidos foram os que tiraram as menores notas. Por que será? Ah, vão dizer agora que ator não pode ser tímido. Claro que pode. Somos tímidos, mas estamos tentando, improvisando, criando, mesmo quando nossa natureza tímida tenta nos travar e nos impedir. Isso deveria ter algum mérito, não? É muito fácil pro extrovertido chegar lá e fazer sua improvisação, ele é espontâneo naturalmente, sem muito esforço. Mas os tímidos precisam passar por cima das travas para alcançar a espontaneidade! E conseguem! Então, puta que pariu, cadê o nosso mérito? Só o fato de a gente não desistir já é uma prova (já que se tem que provar alguma coisa) que estamos disponíveis, que queremos passar pelas barreiras, que temos condições assim como qualquer outro. E somos como qualquer outro. Não peço pra olharem os tímidos como se fossem "café com leite", não é pra dar uma "colher de chá" pra gente, uma vantagem! Não somos mais do que ninguém, mas a recíproca deveria ser verdadeira. E não é. Quem é mais "solto" se dá melhor. Eu já vi isso acontecer infinitas vezes! Mas lá vem a história da concorrência de novo. Não tem vaga pra todo mundo, então, é isso, ou se encaixa no sistema ou ele passa por cima de você sem dó. Eu vivo dizendo que somos máquinas, robôs, números, qualquer coisa, menos seres humanos. Nos colocam à prova todos os dias. E que se dane seus sentimentos, suas aflições, seus pensamentos, seus medos, suas histórias de vida. Não importa quem você é, mas como você se comporta nessas provas. Isso tudo pode parecer um desabafo tolo, mas é o que eu penso. Não gosto de vestibular e de nenhuma outra prova, desde aquelas do colégio até as provas na universidade e qualquer outra prova. Como eu já disse, pra mim, elas não provam nada. E as provas de habilidades são piores ainda, como o nome já diz, quer testar suas habilidades. Ou melhor, habilidades todos nós temos, mas tem algo bem específico que querem que tenhamos e quem tem, ótimo! Mas o que fazer? Não tem vaga pra todo mundo, algo então tem que selecionar. A universidade tinha que ser um direito de todos e todos deviam ter acesso a ela. Mas aí é utopia demais da minha parte. Então é isso, pra entrar na universidade pública, eu tenho que me sujeitar a sua seleção, mesmo discordando totalmente dela. E tenho que dar o meu melhor. Já perceberam como em tudo somos cobrados a dar o nosso melhor? Gozado que todo mundo enche a boca pra falar: "ninguém é perfeito", mas parece que cobram justamente a perfeição. Ser melhor. Ser cada vez melhor. O que é isso senão a busca pela perfeição? Já perceberam como tudo nessa vida é concorrido? Você tem que ser o melhor naquilo que quer, senão o outro vem e você fica a ver navios. Eu não gosto nem um pouco disso. Mas isso já está tão enraizado na sociedade que eu não vejo outra alternativa a não ser tentar me encaixar nisso tudo. E isso é triste. Eu sou obrigada a me contrariar. E é por isso que esse texto não tem importância nenhuma. É um desabafo que não vai me levar a lugar algum, já que eu tenho que me conformar como as coisas são e eu vou fazer vestibular nos próximos dias. Não fiquem bravos por eu ter feito vocês perderem o tempo de vocês com esse texto, eu também perdi o meu, podia estar estudando agora pra ser a melhor! Já estou em desvantagem, hahaha!
Mas é isso, se eu não passar no vestibular, isso não significa que eu seja incompetente. E se eu passar, também não significa que eu seja competente, hahaha! Quer dizer, tenho uma competência mínima exigida pra passar, mas daí a ser competente pro curso, já é outra história...
Tá tudo errado nisso tudo! Tudo muito errado! Mas pra eu não ficar com mais fama de reclamona, paro por aqui. C'est fini!

(Acabei o texto e percebi que faltou postar "as esperanças" que citei no começo, haha... hmm... eh... hmm... não tem esperança, mas vamos lá né, só pra não dizer que sou uma pessoa sem esperança: que 2010 seja um ótimo ano! Hahahahaha!)