sábado, 25 de outubro de 2008

Sinto falta...quero engolir as pessoas pra suprir essa falta que não sei de onde vem. Só sei que sinto falta! Talvez aquelas bocas preencham a falta! Mas eu não posso senti-las...elas não me pertencem, não me tocam. Eu só fico na vontade! Eu sou o instante que antecede o beijo que não acontece! E fico aí...parada exatamente nesse instante! É intenso, mas não acontece! Minha vida é assim! Parada num momento intenso que não chega a acontecer...minha vida fica à espera da concretização...sempre à espera! O tempo todo eu tenho a sensação de que algo vai acontecer! Mas a tensão fica suspensa no ar! E permanece! Tudo ao meu redor é tenso, intenso, tudo ao meu redor aguarda o êxtase... os segundos que antecedem o orgasmo! É aí que eu tô parada! Pronta pro clímax! Que não chega! E sinto falta! Uma falta imensa! Vontade de rasgar meu corpo! Abri-lo pro mundo penetrar minha carne...e depois sangrar o mundo! Vomitá-lo! Expurgá-lo! Ejaculá-lo! Mas o ápice não acontece! E eu fico aqui, estática! Respiro aquilo que poderia ter sido e que não foi! Não foi! E não é! Eu não sou!

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

O corpo dormente deitado na cama amolece a energia que pouco a pouco espalha e afunda pelo colchão... sai por debaixo da cama e desaparece no chão. O corpo sem ânimo estatela-se na cama e lá permanece. Algo dentro dele quer transcender a linha que separa a coragem da vontade. O corpo está tão cansado... no silêncio da madrugada alivia-se de estar longe do caos da cidade que buzina nos seus ouvidos suas aflições e urgências... o corpo não quer saber dos prédios cinzas, nem das faixas pintadas no asfalto, nem das pessoas que vêm e vão... o corpo, se pudesse, flutuaria acima disso tudo. O corpo gruda na cama. O corpo não pesa, mas pesa sobre ele o mundo de tarefas que o corpo precisa realizar. Pesa sobre ele a culpa de deixar tudo de lado. Pesa sobre o corpo as palavras não pronunciadas e o medo das que foram. Pesa sobre ele a ansiedade, a espera das respostas. O corpo é preguiçoso... sente uma preguiça do mundo. O mundo lá fora podia desabar; o corpo, aqui dentro, nem se mexeria do lugar. O colchão engole o corpo, este afunda até cair no chão. Espalha-se... logo desaparecerá... pra sempre!

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

O dia está estranho hoje. Não sei se é o frio. Não sei se é o céu acizentado. Não sei se sou eu! Sinto uma tormenta, vozes atordoando a cabeça. Os olhos estão pesados, querendo fechar, mas não posso fechá-los. Dormir agora me custaria horas preciosas. Tenho que ler contos pra aula de amanhã. Eu adoro contos. Mas não quero ler, meus olhos pesados dificultam a leitura e as vozes na cabeça dispersam a concentração. Dias frios desanimam. A janela está toda fechada, a cama por fazer. A mesa bagunçada. Os livros fitam-me: "você tem muito o que estudar". Eu sei. Mas me entreguei às vozes... o passado zumbe nos meus ouvidos. Estabeleci um diálogo, estou conversando com as vozes. Eu conto pra elas coisas que elas já sabem e repetem de cor. O quarto agora ouve o eco das vozes que falam e repetem o que eu falo. Uma sinfonia de vozes paira no ar. Coisas bobas, coisas alegres, coisas tristes... todas passeiam por aqui. Fechada no quarto, pareço pertencer a um mundo isolado dos demais. À parte, lá fora o som é outro. Nem estou interessada em saber o que o mundo grita lá fora. As vozes berram aqui dentro. Nem que abram a porta e os dois mundos se misturem, ainda assim, eu sentirei mundos diferentes, divididos. Nesse momento, sou por fora o que sou por dentro. E a atmosfera ao redor de mim parece fazer parte de mim, como se fosse uma coisa só, e esse é o mundinho no qual me encontro. Da porta, das paredes e da janela pra fora está o outro lado, o outro mundo, deste eu não faço parte. É estranha essa sensação. E cada vez mais, os olhos pesam. Estarei eu sonhando? Talvez, se eu quiser, eu possa voar. Ou acordar. Se eu estiver acordada, talvez seja melhor eu deitar e deixar meu corpo grudar na cama. Talvez seja melhor eu me entregar ao sono e perder as horas preciosas. Talvez eu tenha sonhos maravilhosos, como aquele que eu comi ontem. Talvez eu tenha pesadelos. Mas provavelmente não lembrarei deles. Sonhei tanto esses dias, sei que sonhei, só não lembro. Só lembro que sonhei com o Tigrão. O Tigrão é o tigre de pelúcia da Ka. O nome dele, na verdade, é Tony. Eu chamo de Tigrão...Tigrão Batatão. Quem o conhece sabe o porquê do "Batatão". É isso, vou deitar, abraçar o Tigrão. Abraçar o Leôncio e dormir! O Leôncio é meu leão de pelúcia. Meu bebê. Meu anjo. Meu amor. O nome dele é Leôncio Camarôncio. O "Camarôncio" não vai entrar na história hoje, outro dia eu explico esse nome. Sem mais delongas, boa noite!