terça-feira, 25 de maio de 2010

Vontade estática

Estática!
Está!
Ânsia!
Está!
Pá!
Parado!
Intacto!
Tato!
Chão!
Pé!
Imóvel!
Ânsia!
Pulso!
Pulsa!
Interno!
Externo!
Estático!
Está!
Tá!
Pá!
Fica!
Cá!
Não!
Não sai!
Bu!
Nada!
Dá!
Dá?
Não!
Por quê?
Quê?
Trava!
Vá! VÁ!
Não!
Cá!
Apenas!
Pena!
É!
É!
És!
Tá!
Estático!
Estática!

(Raquel Zichelle - 25/05/2010)

segunda-feira, 17 de maio de 2010

"Professor" sair gritando com os alunos no meio do corredor depois de uma apresentação, com o público ainda lá, é um desrespeito muito grande. E mais, é anti-ético e anti-pedagógico. Para ser um educador não basta ser um artista brilhante. Eu acredito na educação sem hierarquias, na educação que coloca o professor e o aluno no mesmo patamar, sem autoritarismo, sem superioridade, sem imposição. A educação "cala a boca e me escuta" já deveria estar ultrapassada. Concordo com o que diz Paulo Freire, "educar não é transferir conhecimento", então não me venha impor as suas verdades achando que eu tenho que aceitar passivamente. Não venha berrar as suas ideologias querendo enfiá-las goela abaixo. "Teatro é sagrado", ele gritou. Eu concordo, mas ele é sagrado por ser uma arte que é maior do que nós mesmos, maior do que nossos egos, maior do que ter seu nome em jogo (como ele tanto se preocupou). Mas se o "sagrado" tender ao fanatismo, dogmatizando a arte, colocando verdades absolutas e inquestionáveis, a arte deixa de ser, ao meu ver, arte. Eu, humildemente, escrevo essas palavras. Eu estudo e faço teatro há pouco tempo, o que eu sei se torna insignificante perto de tanto conhecimento que alguns artistas possuem (embora eu ache que nunca ninguém vá realmente saber teatro, arte pra mim não esgota o seu saber, é isso que me fascina), eu tenho a consciência de que nada sei, e quero passar a vida inteira aprendendo (e ensinando também, pq sou daquelas que acha que só se ensina aprendendo e vice-versa) e espero morrer ainda com aquela vontade de aprender. Se eu chegar ao ponto de achar que detenho verdades absolutas e por isso eu posso impô-las pras pessoas, então, minha vida não fará mais o menor sentido. Se eu achar que um aluno meu está indo para um caminho no qual EU não acho o melhor a ser seguido, o que eu devo fazer enquanto educadora é orientá-lo, ou melhor, apresentar para ele outros caminhos e deixar que ele pense, reflita e faça as suas próprias escolhas. Eu devo estimulá-lo a questionar, a pensar sobre as coisas e não berrar simplesmente: "NÃO FAÇA ISSO" e ponto final. Eu me questiono todos os dias sobre o que é arte, o que é teatro e não encontrei uma resposta que me satisfizesse (e acho que não terá uma só resposta), e acho que ninguém pode dizer pra mim o que é. NINGUÉM mesmo! Desculpe-me se eu não aceito imposições, se eu questiono (mesmo que internamente) tudo, TUDO, o que me dizem. Só assim eu saio do lugar, só assim eu aprendo! Aceitar o que o professor diz não me ensina absolutamente NADA.
Certamente, tudo isso que escrevi é questionável, apenas apresentei a minha maneira de ver a educação, mais especificamente, a educação de teatro. E também quis desabafar, pois fico profundamente abalada (e revoltada) quando um "professor" toma atitudes que, ao meu ver, podam o aprendizado em vez de estimulá-lo. E o pior, quando estas atitudes são tomadas pela pessoa que você menos esperava, pela pessoa que você tanto admirava. Por isso, volto a repetir, ser um artista brilhante não faz de você um educador. Mas é lamentável que numa ESCOLA de teatro se priorize o artista brilhante e se negligencie o educador.
É com profunda tristeza e decepção que finalizo este texto.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Sinto que estou fora de mim... como se eu não pertencesse ao meu próprio corpo, é como se não existisse corpo... nenhum corpo... nem o meu nem de nada. Eu vejo as coisas concretas e suas formas, eu vejo a minha forma, mas o que vejo não é o que sinto... não sinto as formas, os contornos, é como se tudo fosse uma coisa só, uma mancha, um borrão. Como se eu me misturasse no "Tudo" e por fazer parte do "Tudo" eu fosse "Nada". É como se eu não existisse. Não é estranho existir sem que se sinta existindo? Eu me olho no espelho, eu vejo meu rosto. Ele tem uma aparência engraçada, mas este rosto não significa nada, seus traços, suas feições, nada me dizem... só são engraçados... eu me vejo como se estivesse vendo outra coisa, outro alguém, porque eu não existo... ou melhor, eu não sinto a minha existência. Eu não sinto a existência de nada. Entre o que eu vejo e o que eu sinto há um abismo. As dores que eu sinto não são minhas... as dores são ausências... as dores são faltas... não se sentir deixa buracos... achava que a dor me preenchia, que doía por estar viva. A dor é só o buraco... o vazio... eu não me sinto... não sou um corpo no espaço... sou apenas o espaço... transparente...