quarta-feira, 21 de abril de 2010

Eu nasci no mundo errado. Sim, errado. O lugar que deveria me acolher não parece em nada com este aqui. Só não sei se o meu lar está longe ou perto daqui... deve estar longe... se estivesse perto, acho que este mundo de cá seria, pelo menos, um pouquinho influenciado pelo de lá e não seria um lugar tão ruim de viver. Na verdade, neste mundo aqui, não se vive; no máximo, se sobrevive. No mundo de lá, se supervive. Eu queria superviver. Deve ser bom. É, deve... não sei... eu nem sequer vivo, quanto mais superviver... Mas imagino que a sensação de superviver seja a de estar com a pele arrepiada o tempo todo. Aqui, a pele só sente o peso de tantas imposições sem sentido... sem limites... Aqui a pele tem cores... e os habitantes brigam por causa delas. Eu ainda tô tentando entender o porquê. Mas neste mundo não se tenta entender os porquês... se aceita os porquês. Como eu não sou deste mundo, nasci aqui por engano, eu tento entender. Mas não é fácil. Dentre bilhões de pessoas (aqui, os habitantes são chamados assim), só poucas tentam entender as coisas. É que elas nasceram aqui por engano também... É, acontece! Eu não sei se as pessoas me consideram como uma "pessoa" também. Acho que quem nasce errado aqui, não é bem vindo. Eu não tive culpa, mas elas não perdoam. O que eu falo não é entendido por ninguém. E eu também tenho dificuldade de entendê-los. No meu mundo, aquele em que eu deveria viver, os habitantes se entendem, se respeitam, se amam, pensam. Aqui, não se pensa. Eu acho engraçadíssimo. Eu conheço o meu mundo, tenho dentro de mim lembranças (mesmo que nunca tenha estado lá), só não sei onde ele está. Onde ele está? Será que um dia eu vou para lá? Não sei... acho que quem nasce no mundo errado fica preso nele. Pra sempre! PRA SEMPRE! Tenho saudades do mundo em que eu nunca estive, mas é como se eu já tivesse estado. Que estranho... eu quase posso sentir a pele arrepiar... mas não se arrepia aqui... este é o mundo do não. "Não se... aqui!", se este mundo tivesse uma placa na sua entrada, seria esta. O mundo de lá não tem nome, não precisa, mas "lá se...", é o que posso dizer. No meu mundo se...

quarta-feira, 14 de abril de 2010

(Des)Aparecida

Fitas, cores, risadas, danças, tambores, músicas, barulhos... ruas agitadas, barraquinhas, fantasias, doces, salgados, cavalos, bandeirinhas, presentes, pessoas. Amigos, recém-amigos, colegas, amores... burburinhos em cada esquina, cervejas, cadeiras, sinos pela cidade, mais risadas, fotos, confusão, cansaço, chuva, ônibus, jornais, confissões, rostos vermelhos, blusas jogadas, beijos...

Menina!

Uma menina que contrapunha com o cenário! Dentro dela não era agito! Por mais que ela batesse o pé acompanhando o ritmo externo, internamente ela era mansa, calma, mole, flutuante. A menina era como o pôr-do-sol. Anunciava a noite que não demoraria a chegar! A menina estava em "slowmotion", enquanto tudo ao redor fervia. A ebulição externa não importava! O concreto não a satisfazia! O possível não a interessava! Era o impalpável que ela queria! É o que ela sempre quer! Por mais que doa! E dói! Ela sabe! Ela bem sabe...

Lágrimas testemunhadas somente pela janela, sua leal companheira!
Lágrimas que terminavam de apagar o rosto da menina! Na garganta, o ar embolava preso à parede...

Sorrisos falsos... rosto (ou espectro dele) erguido... a despedida!
Desaparecimento...

A menina sumia e cada parte arrancada de seu corpo doía!


E ainda dói!



Ela sabe!





Ela bem sabe...