segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Me guardei por tempo demais.
E agora eu não sei ser de outro jeito. Eu só sei encobrir quem eu sou.
Eu não aprendi a ser transparente, eu não aprendi a mostrar sentimentos, a ser direta.
Eu não sei olhar nos olhos. Eu não sei falar. Apenas balbucio algumas palavras.
Eu não aprendi a me relacionar. Eu não aprendi como me sentir a vontade e confortável na presença dos outros. E nem na minha...
Eu me escondi de mim.
Eu não aprendi a ser verdadeira. Eu não sei ser espontânea, autêntica. Eu não aprendi a improvisar. Eu só aprendi a fingir! E a fugir... de mim... dos outros!
Eu só aprendi o quão fácil é vestir máscaras e se perder com elas!
Eu não aprendi a ser errada, a ser imperfeita! Eu sou, mas não aprendi como ser! Mas aprendi como querer ser perfeita! Não aprendi a permitir ser, a errar, a viver! Eu não me permito!
Eu aprendi a mentir! E fiquei boa nisso!
E agora é tarde! Eu não sei ser de outro jeito!

(Madrugada do dia 04/10/2009)

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Sentou perto da janela e esperou a morte chegar. Na cadeira, balançando ficou... o mesmo pendular... monótono pendular... esperava a morte na mesma cadência dos dias que passavam amarelos pela janela... e as noites prateavam o chão do cômodo vazio, apenas a cadeira e a sombra que ia e vinha pelo chão enluarado. Assim ficou, calmo... pálido... taciturno. Absorto na espera... A morte nunca chegava! Mas ouvia segredos soprados nos seus ouvidos... sangue, guerra, fome, carne dilacerada, culpa! Inocentes, virgens, gás, gritos, dor! Segredos que rodeavam, atormentavam, mas não aumentavam o balançar lento da cadeira, não preenchiam o vazio, não enrubreciam o semblante... sempre tão branco. A culpa não mudava o ritmo, os estouros das bombas não minimizavam o silêncio do quarto. Mas por dentro, em seus pulmões, o estopim da guerra respirava, pulsava a tensão no peito, no sangue corria os sangues dos soldados trucidados, a carnificina pregada na garganta, no estômago o gosto da morte. Mas a sua não chegava! O pendular era a sua penitência... condenado à espera. Sério... compenetrado em pagar pelos pecados, fora julgado pela consciência que esmagava o pouco de lucidez que ainda restava. Não deixava a cadeira perder o balançar. A pele intacta! A carcaça firme, corpo petrificado, embora desabassem os órgãos, embora os ossos virassem pó. Jazia por dentro, mas não morria por fora! E por não morrer por fora, o pendular não cessaria jamais! Não morreria jamais por inteiro! Estava condenado à meia morte! Penitente, a balançar interminantemente!

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Hoje o post não será escrito com palavras minhas, mas de outrem. Escolhi alguns poemas que li num site e gostei. Espero que gostem também. Bjos!


C. Almeida Stella

Teu beijo

Ontem,
Quando de mim te despediste,
Naquela sala do "chat",
E me mandaste um beijo,
Eu te perguntei:
- Onde?
Sem querer,
Satisfizeste o meu desejo,
Quando disseste:
- Na tua boca!
Fechei os olhos e imaginei
Tal e qual me falaste.
Bateu forte o coração.
Meu Deus, que coisa louca!
Até senti o gosto da tua boca,
Quando, na imaginação
Me beijaste....
Tua boca, eu nem sabia
Que era assim, tão macia.
E o teu beijo tão molhado,
Demorado,
Fez um estrago em mim.
Ocupou meu pensamento
E eu fiquei todo tempo
Querendo
Outro beijo assim!

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Martha Medeiros

Minha boca...

minha boca
é pouca
pro desejo
que anda à solta

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Virgínia Schall

Beijo

sua boca
uva rubra
roça meus lábios
e por segundos
somos murmúrios úmidos
seiva cósmica
de línguas
púrpuras

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Florbela Espanca

Horas rubras

Horas profundas, lentas e caladas
Feitas de beijos sensuais e ardentes,
De noites de volúpia, noites quentes
Onde há risos de virgens desmaiadas�

Ouço as olaias rindo desgrenhadas�
Tombam astros em fogo, astros dementes.
E do luar os beijos languescentes
São pedaços de prata p'las estradas�

Os meus lábios são brancos como lagos�
Os meus braços são leves como afagos,
Vestiu-os o luar de sedas puras�

Sou chama e neve branca misteriosa�
E sou talvez, na noite voluptuosa,
Ó meu Poeta, o beijo que procuras!