quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Pavor, inação, tristeza, solidão, pateticismo... Essas são algumas palavras que vieram a minha mente para tentar definir como me sinto nestes últimos dias.
Eu banalizei o "tudo bem". Não, não tá tudo bem. Eu sei que já estive pior e tive fases longas de tristeza profunda e, por isso, tenho a sensação de que estou bem agora, que aquilo que me amedrontava no passado foi embora. Mas não foi. De alguma maneira, ainda me barra. E o tempo só está passando e eu continuo presa. E parece que quanto mais velha eu fico, menos vontade eu tenho de me soltar. 
Eu só quero ficar deitada, seja lendo, usando o notebook ou vendo tv, eu passo a maior parte do tempo deitada. Ok, tô de férias, dá uma preguiça mesmo, ainda mais com esse tempinho frio. Mas é algo maior do que a preguiça das férias. Está cômodo aqui na minha bolha. Eu leio livros com personagens incríveis, instigantes, vejo filmes e seriados com personagens e histórias apaixonantes e me perco nas ilusões. Os personagens estão vivendo o que eu gostaria de viver e eu me contento com isso. Contento-me em fechar os olhos e imaginar como seria se eu falasse o que sinto. Abro os olhos e pronto. Finito! 
Falei outro dia que gostaria de ter "20 segundos de coragem insana"... pois bem, não tô tendo coragem nenhuma, só covardia insana. Medo! Medo! Medo! Medo de eu sei lá o quê!
Quando eu era mais nova, eu queria mudar o mundo! Hoje, eu só quero não ter que enfrentá-lo! Ao menos, não sozinha!!! Sabiam que até pra ir em alguma consulta médica minha mãe ou irmã vão comigo? Eu não consigo me sentir confortável numa sala pequena com alguém estranho ou pouco conhecido. Esse é o motivo de eu não ter tirado a carta de motorista ainda (tá, falta de dinheiro é um problema sério tb, mas o medo de estar num carro com alguém desconhecido é maior). Pode parecer bobagem para alguns, mas se eu fico desconfortável com AMIGOS, por que não ficaria com desconhecidos? Não lembro se já contei de quando eu fazia Letras, eu cheguei mais cedo um dia na aula de francês, entrei na sala e fiquei sozinha estudando, aí o professor chegou e começou a puxar assunto comigo, em francês, lógico! Aí eu não conseguia responder direito (se em português eu já travo, em outra língua então...), eu fiquei nervosa, só falava uns "oui, oui" que mal saíam da boca, era como se eu não soubesse falar, e ele perguntando um monte de coisas. Como eu quase não respondia, ele perguntou, brincando, se eu não falava. Aí, percebendo que eu teria que falar algo mais concreto, resolvi responder em português mesmo, para não deixá-lo no vácuo, só que quem disse que a resposta saiu direito? Eu ia responder: "eu não sei responder em francês" (embora eu até soubesse) e saiu simplesmente: "eu não sei...". Pensa na cena: "você não fala?", "eu não sei...", ele caiu na risada, obviamente, e a conversa se encerrou. Eu mal consegui prestar atenção na aula nesse dia. Hoje, eu até dou risada lembrando disso, mas não significa que não me deixe um pouco triste. Eu sei que o professor brincou com a situação não com a intenção de me deixar pior, mas porque ele também ficou desconfortável. Eu pude ver como é isso. Saí outro dia com meu melhor amigo, e num ponto da conversa, ele quis me mostrar como eu falava com ele nas primeiras vezes que nos vimos: ele olhou pra minha testa e ficou falando! Eu tive um choque! Eu vi o quão estranho é você estar falando com alguém, olhando pra pessoa e ela olhando por cima dos seus olhos. A demonstração dele foi rápida, mas o suficiente pra me deixar incomodada! Eu estive do outro lado da história! E é por isso que eu fico triste. Porque eu sei que o meu medo não afeta só a mim. Eu sei que estou deixando a pessoa sem muita opção também... E, aí, a pessoa achando que vai quebrar o gelo e me ajudar, solta algo como: "nossa, como você fala, hein". Não, isso não ajuda! Isso só piora! Se vocês não sabiam, agora sabem: isso é péssimo! Vão embora e não falem mais comigo se meu silêncio está insuportável, mas não falem algo do tipo! Eu SEI que eu não tô falando, eu SEI que não estou olhando nos olhos, eu SEI que isso incomoda, eu SEI! Desculpem, fiquei um pouco irritada, mas é porque estou chateada e eu não sei ficar triste sem me irritar junto!
Mas tudo isso já é bla, bla, bla antigo aqui...

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Eu escrevi o texto acima ontem, mas, por algum motivo, não quis publicá-lo quando terminei. Enquanto eu escrevia, lembrei do filme Românticos Anônimos (Les émotifs anonymes) e o quanto gostaria de revê-lo. Pois bem, liguei a tv à noite e vi que ia passar o filme, então assisti. Ele tem tudo a ver com o que eu escrevi acima. Eu sou uma junção dos protagonistas: dois tímidos que ficam muito nervosos em diversas situações e têm muito medo, assim como eu.  Ele entra em pânico quando o telefone toca e tem pavor de ter intimidade com alguém; ela trava quando alguém lhe pergunta algo que ela sabe sobre o próprio trabalho, mas que tem que demonstrá-lo, é como se desse um branco e ela nada soubesse! "Você tem medo de tudo, de falar com as pessoas, de entrar numa loja, de viver", alguém diz em certo ponto do filme. Rá. Xeque-mate!

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Ainda sobre tudo isso dito acima, republicarei aqui um texto que escrevi há um pouco mais de três anos, mas que continua fazendo muito sentido:

Eu sou patética. E como se não bastasse, eu sou desesperada. Sim, desesperada por atenção, desesperada para que notem a minha presença. Mas é um apelo silencioso. Eu não vou falar com todas as letras que eu quero que você me note, não. Você vai ter que adivinhar. Mas adivinhar como se eu... se eu me fecho e não deixo ninguém entrar no meu mundinho de conto de fadas? Eu não vou deixar transparecer no meu olhar e no meu sorriso e nem nas minhas palavras amigas que eu estou desesperada. Minha alma clama por sua atenção, mas como você vai conseguir ler minha alma se eu não permito? Ler minha alma seria como me desnudar e por favor que isso não aconteça! Ninguém pode me desnudar! Ninguém! Talvez por isso que eu não deixo que ninguém olhe muito nos meus olhos, não é pra espiar o que não deve! Mas então, se eu mesma não quero que alguém me desvende, por que diabos eu espero ansiosa e desesperadamente que alguém me entenda? Que alguém me note? Que alguém me ame? Talvez agora você entenda porque eu sou patética! Eu saí de algum livro de quinta no qual os personagens são indignos de pena! Eu sou indigna de pena, apesar de despertar a sua piedade, o que me torna ainda mais patética, mas se você tem pena de mim, desperdiça seu tempo! Tudo o que eu tenho a oferecer a você é a minha solidão! Isto não te assusta? Você fica comigo e seremos dois solitários, você com a minha solidão, eu com a sua. Isso me apavora! Antes a minha solidão do que a de outrem! Dói menos quando é a sua própria, dela você é íntima, não tem porque sofrer, ela te acalenta e aquece nas noites frias, ela te gela nos dias quentes... E mesmo sabendo que conviver com a minha solidão é a melhor opção, eu ainda anseio pela sua atenção. Não é patético esperar que alguém me salve da dor? Feche a cortina, esta peça atingiu o limite da ridicularidade e do pateticismo! Só falta dizer pra vir num cavalo branco, aí o cúmulo se instaura de vez! Esperar que alguém me tire da dor, essa é boa! Se você me der a sua atenção, o que isso pode realmente fazer por mim? Será que o desespero vai embora ou ainda assim eu me desesperarei? O que eu posso responder é que se você me der a sua atenção, meu coração vai bater mais forte e aí outro desespero surge: o amor! Sim, o que é o amor senão um grito de desespero? As batidas são os berros de socorro, se você ficar bem quietinho talvez consiga escutar! Eu estou em silêncio... (29/11/2009)

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E, por último, um pedido de desculpas. Eu sei que te decepcionei. Mas o que você quer de mim, eu não posso te dar: olhos nos olhos. Mas é seu o meu sorriso acanhado e meu rosto rosado... gostaria que isso bastasse... Desculpa... 

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Poetizando...

I

Sorriso o rosto rasga.

Garganta engasga
O riso esgarça
O rosto sem graça.

***

II


Garganta gargalha
O grito espalha
A risada amarga
Garganta embarga.

***

III


A risada arranha
Goela emaranha
Língua doída
Ri a ferida.

(Raquel Zichelle - 11/01/2013)

Os versos precisam ser melhorados, mas, por ora, ficam assim...
Ah, foram inspirados no texto: http://papillonauvent.blogspot.com.br/2010/09/sorria.html

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Não peça,
impeça!
Meça.
Cessa!
Peça!
Controversa!
Conversa?
Versa!
Versa essa?
Engessa!
Cessa!

(Raquel Zichelle - 14/03/2012)

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Entrave
Trave
Trava
Travar
Atravancar
Trancar
Tranca/tranco/truncar/truncado
Trancamento             truco/trunco
Trancado                   trinca
Trincado                    trincar

Treco                        trinchar
Troco                        trincheira
Troça                        trinco
               Trucidar     tronco
                                 troncudo
                                 trocado
                                 troca

                                 Tripa
                                 Trepa
                                 Trepar
                                 Tropa
                             
(Raquel Zichelle - 25-30/11/2011)

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Fios dourados - ouro queimado - entrelaçados nos dedos magros e compridos...
Magros e compridos... Desajeitados, desajeitando os fios...
Dedos pálidos, enrubescidos como a face.
Mas a face embranqueceu quando os fios abandonaram, por conveniência, os dedos...

(Raquel Zichelle - 12/06/2012)

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Terra aguada aguarda os pés pequeninos, descalços. Pés que niños dessapatam a lama. Lama esconde alma, que escancara ama. Escarra. Esparrama. Espalha lama!
Arre – ruge a terra. Urge. Surge. Regurge. Grunhe! Gruta! Ruta! Rui... Rua!
Terra enlameada meandra os dedos. Dedinhos. Inhozinhos.
Arre... arre... arre, a terra geme. Treme. Arre... Pisa o pé. Arre... Pisa o outro. As marquinhas lamacentas assentam a terra. Aterra.
Jaz a terra já sem pés.
Seca a terra.
Secatura!
Sucata!

(Raquel Zichelle – 17/12/2012)

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Bola amarela.
- Amar ela?
- Maré lá!
A bola bóia...
- Óia!!! A bola rola no mar!
- No mar ela é ainda mais amarela!
Inda...
Indo...
Se foi...
Sói.
Sol!

(Raquel Zichelle – 17/12/2012)