sexta-feira, 27 de setembro de 2013

É tanta falta que falta espaço no peito pra doer!

***

Se me é negado o amor

Se me é negado o amor, por que, então, amanhece;
por que sussurra o vento do sul entre as folhas recém nascidas?
Se me é negado o amor, por que, então,
A noite entristece com nostálgico silêncio as estrelas?
E por que este desatinado coração continua,
Esperançado e louco, olhando o mar infinito?

(Rabindranath Tagore)
***
Coração desatinado. Acho que é a melhor definição que posso dar para o meu. É, ele continua esperançado e louco olhando o mar infinito, no alto do rochedo. Mas desatinado que é, logo irá se arremessar do alto, e se deixar afogar no mar.
***
Onde já se viu o mar apaixonado por uma menina?
Quem já conseguiu dominar o amor?
Por que que o amor não se apaixona por uma lagoa?
Porque a gente nunca sabe de quem vai gostar...

(Ana e o mar - O Teatro Mágico)

***

Você me bagunça
O Teatro Mágico

Você me bagunça e tumultua tudo em mim
Essa moça ousa, é musa e abusa de todo meu sim
Você me bagunça e tumultua tudo em mim
E ainda joga baixo, eu acho, nem sei,
Só sei que foi assim
Assimila, dissimula, afronta, apronta, diz: "carrega-me nos abraços"
Lapida-me a pedra bruta, insulta, assalta-me os textos, os traços
Me desapropria o rumo, o prumo, juro me padeço com você
Me desassossega, rega a alma, roga a calma em minha travessia
Outro "porquê"
Parece que o coração carece e diz: "para!" Silencia.
Se embrulha e se embaralha,
Reconsiderar o ar, o andar , nossa absolvição, a escuta e a fala
Nos amorizar o dia, a pia, o corredor, a calçada, o passeio e a sala
Se perder sem se podar e se importar comigo
Aprender você sem te prender comigo
Difícil precisar quanto preciso
Difícil precisar quanto preciso
***
Quem me dera conseguir escrever algo tão bonito quanto a letra acima... Só me resta suspirar... Coração silencia, se embrulha e se embaralha... Mas logo vai se afogar no mar infinito... tão desatinado... 

domingo, 28 de julho de 2013

Junho... julho... baboseiras, desabafos, despedidas...

Que desastre nós somos, não?
(22/06/2013)

***

Está tudo tão "sei lá"... Será que estou voltando à fase "flor de plástico"? Um amigo meu costuma se referir dessa forma pra definir qdo tudo está sem graça... Nem bom nem ruim. Está faltando lirismo na minha vida. E mais: está faltando alguém para me acompanhar nessa busca por mais lirismo...

***

Eu, flor de plástico

Flor plástica
Rosa entediada
Desabrocha estática
Flor resignada

Inodora
Insípida

Flor anulada
Rosa artificial
Brota desbotada
Flor superficial

Sem graça
Mofada
Morta

(Raquel Zichelle - 27/06/2013)

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Oi. - Como assim você não bebe? - Recalque bate e volta. - Você deveria experimentar! - Vem! - Fascista! - Quem se abstém? - Tudo bem? - Fala! - Sai! - Novidades? - Tsc... tsc... tsc... - Você não fala? - Bla, bla, bla. - HAHAHA. - Mimimi. - Quanto tempo! - A gente marca! - Oieeee! - Tchau. - Nem vou... - Você sumiu! - Vem pra rua! - Experimenta! - Me beija! - Golpe! - Saudades! - Desisto! - TCC! - Você não sabe ser feliz! - Poser! - Vamos ocupar! - Sexo! - Estrelas! - =/ - Tem que matar esses filhos da puta! - Deus! - BBB! - É esse o país que vai sediar a Copa? - ^^ - Que lixo! - Corta pra mim! - Cura gay! - Você tem que fazer algum exercício! - Trote é saudável, desde que não violento! - Ele está interessado nela! - blablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablabla

Não adianta mudar de canal, trocar de amigos, sair das redes sociais, é sempre o mesmo blablabla em qualquer lugar!!! Eu falo o mesmo blablabla! Daí que eu sou uma blablafóbica cansada de mim e dos outros e não tem saída!

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Sinto que meu peito vai explodir a qualquer momento... Pensei que ter me apaixonado por você fosse a melhor coisa que tivesse me acontecido nos últimos tempos... mas estava enganada... Na verdade, eu me apaixonei por uma fantasia... pra variar... Eu pensei que, dessa vez, seria diferente... Eu sempre me apaixonei por fantasias, ilusões, ideais... Eu me apaixono por personagens de livros, filmes... Eu me apaixono pela ideia que eu faço das pessoas, pela história que eu crio na minha cabeça, pelo sorriso que eu finjo que é pra mim. Dessa vez, pensei que tudo isso seria diferente. Que, finalmente, o sorriso era pra mim...


***

Começo a achar que eu sou uma personagem de Beckett... Esperando... não Godot... mas isso não importa...

***

Eu sou uma peça de um tabuleiro de xadrez. Eu não posso me mexer, pois o único movimento possível te dará de presente o xeque-mate! Então, eu espero... Espero que você desista e abandone o jogo antes que eu o faça...

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Eu não posso te culpar. Você pode não ser tão fechado quanto eu, mas é bem difícil de penetrar os seus mistérios. Mas eu não posso te culpar, já que sempre me mantive emparedada pelo meu orgulho, numa falsa tentativa de proteção. Eu também dificultei as coisas... eu fui ingênua, na verdade. Eu pensei que você perceberia que quando eu respondia com sinceridade que não estava bem, isso mostraria que eu tinha abaixado a guarda e você poderia se aproximar sem perigo. Mas eu não tinha abaixado a guarda porcaria nenhuma. E você também não facilitou: manteve todo o tempo as armas apontadas para o meu muro. É... o que poderíamos esperar de dois inseguros tentando se proteger a qualquer custo? Então, é isso. Cada um no seu território, sozinho.
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Ouvindo Wonderwall, do Oasis, e ainda pensando em você...
"And all the roads we have to walk are winding
And all the lights that lead us there are blinding
There are many things that I would like to say to you
But I don't know how

Because maybe
You're gonna be the one that saves me
And after all
You're my wonderwall"

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Prometi que estes serão os últimos textos que escreverei pensando em você! Preciso deixar você partir. Não aguento mais. Essa é a minha despedida. Obrigada por ter me inspirado por um ano e meio, nunca escrevi tantos textos pensando numa mesma pessoa. Mas já deu. Preciso de uma nova inspiração. Preciso de reciprocidade. Adeus!

sábado, 4 de maio de 2013

Eu estou aqui? Pergunto-me olhando o espelho.
Este rosto nada me diz. Nada!
Meus olhos são cavernas que me escondem bem lá no fundo, em algum lugar na escuridão.
Eu estou lá!
Eu escuto as asas dos morcegos batendo como o furacão que arranca as folhas e as destroçam no chão!
Sinto frio!
Repugnância! O gosto amargo da solidão saliva por entre os dentes!
Escarro!
O amargor permanece! A alma suja, vil, não pode ser expurgada!
Os olhos morcegam por toda parte - inquisidores!
O espelho ainda está lá! Zombeteiro! Ejacula o seu escárnio!
Fracasso! O grito estronda e morre!
O silêncio serpenteia meu corpo!
Emparedada, sufoco!
Afogo! Afônica! Atônita!
Eu estou lá em algum lugar da caverna escura...

(Raquel Zichelle - 03/05/2013)

A culpa chicoteia o corpo!
As marcas envergonham!
A culpa chupa o seio ferido!
Carne viva!
Sangue-ferrugem-saliva!
A culpa insemina a vergonha!
A culpa penetra a pele!
A culpa goza o assombro!
A culpa cospe o temor sobre o corpo condenado!
A culpa esquarteja o corpo!
A culpa incendeia o corpo-resto! O corpo-morto! O corpo-pó!
Pó!
A culpa esfarela a sobra!
Assopra!
Nada!

(Raquel Zichelle - 03/05/2013)

O sorriso outrora rasgado jaz pregado na face.

(Raquel Zichelle - 03/05/2013)


quinta-feira, 25 de abril de 2013

Seus olhos e outros pateticismos...

A negritude dos seus olhos reflete a tempestade que arrebata a sua alma. Toda a intensidade de sua inquietação se espelha nos seus olhos. Dois lagos escuros revoltos... Seu olhar impetuoso penetra a minha pele, enrubesce a minha face, preenche o meu sorriso acanhado... Seus olhos são como buracos negros que me sugam pra dentro deles... Eu tenho medo. Mas a verdade é que eu adoro a desmedida sôfrega dos olhos que me tragam. Seus olhos devoram meu rubor sem você nem ao menos saber (ou querer)...

***

Minhas mãos faziam a latinha de refrigerante dançar na mesa. Silêncio inquieto. Eu quase fui embora. Os cochichos não me pertenciam e eu nada podia fazer. Mas eu fiquei. Eu queria ouvir. Eu queria saber. Os olhos fixos na latinha. Quanto mais eu tentava juntar os cacos dos sons, menos eu me via pertencendo ali. Mas não podia ir embora, não dessa vez. Naquelas palavras, estava escondido algo que eu precisava saber. A dúvida torturante poderia ir embora ali. Mas não foi. Alguns cacos não viraram lágrimas por muito pouco. Mas outros me fizeram sorrir. E eu fiquei sem saber. De novo. Estou estagnada, há muito tempo, numa situação desagradável, mas cômoda. Eu não tenho para onde ir... Ou melhor, eu tenho medo de sair daqui...

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Outro dia, outra latinha... Novos cochichos... A mesma dúvida!

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Eu não vou assumir que gosto de você, eu tive a chance, mas me calei. Fingi não me importar, fingi ser apenas uma amiga... Agora parece que já é tarde... Essa situação não vai mudar... Eu vou continuar delirando com cada palavra que você disser pra mim, tentando entender o que significa, até a dúvida me corroer por inteira. Até eu enlouquecer... Não falta muito. Aí, logo você vai estar com outra e eu vou me sentir uma imbecil. De novo.

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Com o coração estilhaçado. É, eu queria ser feita de aço e não de vidro (como diz uma música do Capital...)

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A tristeza sufocou tanto o peito que até me faltou o ar, pensei que fosse desmaiar...

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Pensando seriamente em voltar para a minha fase auto-destrutiva de relacionamentos superficiais e sem graça...

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Como se não bastasse sentir tudo isso, ainda tenho que lidar com a rejeição de um amigo que sempre foi muito querido pra mim e resolveu me tirar da vida dele, assim, sem mais nem menos... Já faz quase um ano e eu ainda sofro com isso. Escrevi o texto abaixo pra ele (mas ele nem vai ler, o que me torna patética, mas ok...):

Eu pensava em você e um sorriso era inevitável. Agora, o sorriso se desfez, virou uma lembrança dolorida. Mas eu ainda penso em você frequentemente. Eu ainda penso no seu sorriso. Ainda lembro daquele dia que você me ligou às 7h, foi a melhor maneira que alguém já me acordou e você nem soube que fiquei o dia inteiro radiante por causa do seu "bom dia". Ainda lembro das nossas conversas no msn de madrugada e dos scraps diários no Orkut. Você sempre me chamava de "pequena", lembra? "Oi, pequena", "te adoro, pequena"... E eu gostava tanto disso... Gostava de te ver, mesmo quando tinha que te ver com outros. E eu gostei de você desde o primeiro dia que te vi. Você me encantou logo nos primeiros minutos. Você é uma pessoa apaixonante. Mas, agora, eu tenho que esquecer de tudo isso. Mas eu não quero te esquecer. Eu não sou mais apaixonada por você já faz anos, mas você era alguém que sempre me faria sorrir. Você era especial. Você era um amigo especial. E a distância não apagou isso. Mas você me apagou. Eu ainda não consigo aceitar isso! Esses dias, achei uma foto sua perdida na minha carteira, no meio de fotos de outros amigos... Tive coragem de tirar a foto da carteira, mas não consegui me desfazer dela. Foi pra gaveta de bagunças. E é lá que você merece ficar, no meio da bagunça, da minha bagunça! Eu não vou te esquecer. Mas espero pensar menos em você. Você será alguém que um dia me fez bem e só. Até lá, sigo pensando em você...


domingo, 10 de março de 2013

Delírios...

Ah, Werther, quem me dera ser sua Lotte...

"Que calor percorre todo o meu ser quando por acaso meu dedo toca no dela, ou nossos pés se encontram embaixo da mesa! Afasto-os como se tivesse tocado o fogo, e uma força secreta impulsiona-me de novo... uma vertigem arrebata todos os meus sentidos!... E dizer que sua alma cândida desconhece a tortura que me infligem essas pequenas intimidades! E quando, animados pela conversa, ela pousa sua mão sobre a minha, e quando, ao conversar, ela se aproxima tanto de mim que eu chego a experimentar seu hálito celestial junto dos meus lábios... então, parece que vou cair como que fulminado por um raio..."


"Sim, pela primeira vez senti, com absoluta certeza, este pensamento delicioso abrasar o mais profundo do meu ser: 'Ela me ama! Ela me ama!' Queima-me ainda os lábios o fogo sagrado que vinha em torrentes dos seus lábios; uma ardente delícia, jamais sentida, permanece ainda no meu coração. (...) Ah! Eu sabia que você me amava! Soube desde os primeiros olhares em que transparecia a sua alma, desde os primeiros apertos de mão; (...) nenhuma eternidade extinguirá a vida ardente que aspirei ontem dos seus lábios e que ainda sinto queimar em mim. Ela me ama! Estes braços a enlaçaram, estes lábios tremeram contra os seus, esta boca balbuciou encostada à sua boca! Você é minha, Lotte; para todo o sempre!" 

Trechos d'Os Sofrimentos do Jovem Werther, de Goethe.

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O amor que eu quero não existe fora da literatura. Aqui é tudo tão morno. Eu estou morna.

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Seu sorriso tinha algo de malicioso, algo de "eu sei que você gosta de mim", e parecia se divertir com a minha tentativa em negar! Seu sorriso também tinha um quê de reciprocidade! Por segundos, senti que o sorriso me dizia: "eu também gosto de você!". E eu também sorri! Mas a certeza se dissipou, e o que você não sabe é que seu sorriso, desde então, trancafiou-me num labirinto. Eu corro entre caminhos de dúvidas, idealizações e ilusões! Talvez seu sorriso significasse apenas: "tenha um bom dia". Eu não quero acreditar nisso, porque, desesperadamente, eu quero crer que o amor que eu sempre busquei existe sim fora das páginas dos livros... Mas as evidências que batem na minha cara mostram que estou enganada: "tola!", dizem zombando! No entanto, uma pontinha em mim ainda cutuca tentando ser ouvida: "não, dessa vez você não está enganada!". Aaaah, que tortura!!! Corrói, em mim, a dúvida...

***

Em meus delírios e sonhos, eu idealizei você, eu idealizei a mim mesma. Você-ideal e Eu-ideal é que ficam juntos na história. Você e Eu não. No meu imaginário, o seu sorriso é para e por mim! No meu ideário, é a minha mão que você toca. Mas fora dos devaneios, a minha mão tateia o vazio! Os meus lábios racham - secos - sem a umidade da sua boca! Nos meus sonhos, meus olhos desnudam os seus! Na minha fantasia, nós olhamos, mudos, as estrelas... e, no silêncio, nossas essências se entrelaçam! Mas fora dos delírios oníricos, o silêncio apenas nos constrange!

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"Ah, querido amigo, o que é o coração humano?". Não saberia responder, Goethe, mas, no meu, habitam todas estas inquietações... e a culpa é sua!

sábado, 23 de fevereiro de 2013

O silêncio
ESPERNEIA!
Faz pir-ra-ça!
Aperreia... se desgraça!
O silêncio se
des...
ca...
be...
la, se
eStReBuChA, se
esGOEla, se
desembucha!!!

(Raquel Zichelle - 22/02/2013)

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Pavor, inação, tristeza, solidão, pateticismo... Essas são algumas palavras que vieram a minha mente para tentar definir como me sinto nestes últimos dias.
Eu banalizei o "tudo bem". Não, não tá tudo bem. Eu sei que já estive pior e tive fases longas de tristeza profunda e, por isso, tenho a sensação de que estou bem agora, que aquilo que me amedrontava no passado foi embora. Mas não foi. De alguma maneira, ainda me barra. E o tempo só está passando e eu continuo presa. E parece que quanto mais velha eu fico, menos vontade eu tenho de me soltar. 
Eu só quero ficar deitada, seja lendo, usando o notebook ou vendo tv, eu passo a maior parte do tempo deitada. Ok, tô de férias, dá uma preguiça mesmo, ainda mais com esse tempinho frio. Mas é algo maior do que a preguiça das férias. Está cômodo aqui na minha bolha. Eu leio livros com personagens incríveis, instigantes, vejo filmes e seriados com personagens e histórias apaixonantes e me perco nas ilusões. Os personagens estão vivendo o que eu gostaria de viver e eu me contento com isso. Contento-me em fechar os olhos e imaginar como seria se eu falasse o que sinto. Abro os olhos e pronto. Finito! 
Falei outro dia que gostaria de ter "20 segundos de coragem insana"... pois bem, não tô tendo coragem nenhuma, só covardia insana. Medo! Medo! Medo! Medo de eu sei lá o quê!
Quando eu era mais nova, eu queria mudar o mundo! Hoje, eu só quero não ter que enfrentá-lo! Ao menos, não sozinha!!! Sabiam que até pra ir em alguma consulta médica minha mãe ou irmã vão comigo? Eu não consigo me sentir confortável numa sala pequena com alguém estranho ou pouco conhecido. Esse é o motivo de eu não ter tirado a carta de motorista ainda (tá, falta de dinheiro é um problema sério tb, mas o medo de estar num carro com alguém desconhecido é maior). Pode parecer bobagem para alguns, mas se eu fico desconfortável com AMIGOS, por que não ficaria com desconhecidos? Não lembro se já contei de quando eu fazia Letras, eu cheguei mais cedo um dia na aula de francês, entrei na sala e fiquei sozinha estudando, aí o professor chegou e começou a puxar assunto comigo, em francês, lógico! Aí eu não conseguia responder direito (se em português eu já travo, em outra língua então...), eu fiquei nervosa, só falava uns "oui, oui" que mal saíam da boca, era como se eu não soubesse falar, e ele perguntando um monte de coisas. Como eu quase não respondia, ele perguntou, brincando, se eu não falava. Aí, percebendo que eu teria que falar algo mais concreto, resolvi responder em português mesmo, para não deixá-lo no vácuo, só que quem disse que a resposta saiu direito? Eu ia responder: "eu não sei responder em francês" (embora eu até soubesse) e saiu simplesmente: "eu não sei...". Pensa na cena: "você não fala?", "eu não sei...", ele caiu na risada, obviamente, e a conversa se encerrou. Eu mal consegui prestar atenção na aula nesse dia. Hoje, eu até dou risada lembrando disso, mas não significa que não me deixe um pouco triste. Eu sei que o professor brincou com a situação não com a intenção de me deixar pior, mas porque ele também ficou desconfortável. Eu pude ver como é isso. Saí outro dia com meu melhor amigo, e num ponto da conversa, ele quis me mostrar como eu falava com ele nas primeiras vezes que nos vimos: ele olhou pra minha testa e ficou falando! Eu tive um choque! Eu vi o quão estranho é você estar falando com alguém, olhando pra pessoa e ela olhando por cima dos seus olhos. A demonstração dele foi rápida, mas o suficiente pra me deixar incomodada! Eu estive do outro lado da história! E é por isso que eu fico triste. Porque eu sei que o meu medo não afeta só a mim. Eu sei que estou deixando a pessoa sem muita opção também... E, aí, a pessoa achando que vai quebrar o gelo e me ajudar, solta algo como: "nossa, como você fala, hein". Não, isso não ajuda! Isso só piora! Se vocês não sabiam, agora sabem: isso é péssimo! Vão embora e não falem mais comigo se meu silêncio está insuportável, mas não falem algo do tipo! Eu SEI que eu não tô falando, eu SEI que não estou olhando nos olhos, eu SEI que isso incomoda, eu SEI! Desculpem, fiquei um pouco irritada, mas é porque estou chateada e eu não sei ficar triste sem me irritar junto!
Mas tudo isso já é bla, bla, bla antigo aqui...

***

Eu escrevi o texto acima ontem, mas, por algum motivo, não quis publicá-lo quando terminei. Enquanto eu escrevia, lembrei do filme Românticos Anônimos (Les émotifs anonymes) e o quanto gostaria de revê-lo. Pois bem, liguei a tv à noite e vi que ia passar o filme, então assisti. Ele tem tudo a ver com o que eu escrevi acima. Eu sou uma junção dos protagonistas: dois tímidos que ficam muito nervosos em diversas situações e têm muito medo, assim como eu.  Ele entra em pânico quando o telefone toca e tem pavor de ter intimidade com alguém; ela trava quando alguém lhe pergunta algo que ela sabe sobre o próprio trabalho, mas que tem que demonstrá-lo, é como se desse um branco e ela nada soubesse! "Você tem medo de tudo, de falar com as pessoas, de entrar numa loja, de viver", alguém diz em certo ponto do filme. Rá. Xeque-mate!

***

Ainda sobre tudo isso dito acima, republicarei aqui um texto que escrevi há um pouco mais de três anos, mas que continua fazendo muito sentido:

Eu sou patética. E como se não bastasse, eu sou desesperada. Sim, desesperada por atenção, desesperada para que notem a minha presença. Mas é um apelo silencioso. Eu não vou falar com todas as letras que eu quero que você me note, não. Você vai ter que adivinhar. Mas adivinhar como se eu... se eu me fecho e não deixo ninguém entrar no meu mundinho de conto de fadas? Eu não vou deixar transparecer no meu olhar e no meu sorriso e nem nas minhas palavras amigas que eu estou desesperada. Minha alma clama por sua atenção, mas como você vai conseguir ler minha alma se eu não permito? Ler minha alma seria como me desnudar e por favor que isso não aconteça! Ninguém pode me desnudar! Ninguém! Talvez por isso que eu não deixo que ninguém olhe muito nos meus olhos, não é pra espiar o que não deve! Mas então, se eu mesma não quero que alguém me desvende, por que diabos eu espero ansiosa e desesperadamente que alguém me entenda? Que alguém me note? Que alguém me ame? Talvez agora você entenda porque eu sou patética! Eu saí de algum livro de quinta no qual os personagens são indignos de pena! Eu sou indigna de pena, apesar de despertar a sua piedade, o que me torna ainda mais patética, mas se você tem pena de mim, desperdiça seu tempo! Tudo o que eu tenho a oferecer a você é a minha solidão! Isto não te assusta? Você fica comigo e seremos dois solitários, você com a minha solidão, eu com a sua. Isso me apavora! Antes a minha solidão do que a de outrem! Dói menos quando é a sua própria, dela você é íntima, não tem porque sofrer, ela te acalenta e aquece nas noites frias, ela te gela nos dias quentes... E mesmo sabendo que conviver com a minha solidão é a melhor opção, eu ainda anseio pela sua atenção. Não é patético esperar que alguém me salve da dor? Feche a cortina, esta peça atingiu o limite da ridicularidade e do pateticismo! Só falta dizer pra vir num cavalo branco, aí o cúmulo se instaura de vez! Esperar que alguém me tire da dor, essa é boa! Se você me der a sua atenção, o que isso pode realmente fazer por mim? Será que o desespero vai embora ou ainda assim eu me desesperarei? O que eu posso responder é que se você me der a sua atenção, meu coração vai bater mais forte e aí outro desespero surge: o amor! Sim, o que é o amor senão um grito de desespero? As batidas são os berros de socorro, se você ficar bem quietinho talvez consiga escutar! Eu estou em silêncio... (29/11/2009)

***

E, por último, um pedido de desculpas. Eu sei que te decepcionei. Mas o que você quer de mim, eu não posso te dar: olhos nos olhos. Mas é seu o meu sorriso acanhado e meu rosto rosado... gostaria que isso bastasse... Desculpa... 

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Poetizando...

I

Sorriso o rosto rasga.

Garganta engasga
O riso esgarça
O rosto sem graça.

***

II


Garganta gargalha
O grito espalha
A risada amarga
Garganta embarga.

***

III


A risada arranha
Goela emaranha
Língua doída
Ri a ferida.

(Raquel Zichelle - 11/01/2013)

Os versos precisam ser melhorados, mas, por ora, ficam assim...
Ah, foram inspirados no texto: http://papillonauvent.blogspot.com.br/2010/09/sorria.html

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Não peça,
impeça!
Meça.
Cessa!
Peça!
Controversa!
Conversa?
Versa!
Versa essa?
Engessa!
Cessa!

(Raquel Zichelle - 14/03/2012)

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Entrave
Trave
Trava
Travar
Atravancar
Trancar
Tranca/tranco/truncar/truncado
Trancamento             truco/trunco
Trancado                   trinca
Trincado                    trincar

Treco                        trinchar
Troco                        trincheira
Troça                        trinco
               Trucidar     tronco
                                 troncudo
                                 trocado
                                 troca

                                 Tripa
                                 Trepa
                                 Trepar
                                 Tropa
                             
(Raquel Zichelle - 25-30/11/2011)

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Fios dourados - ouro queimado - entrelaçados nos dedos magros e compridos...
Magros e compridos... Desajeitados, desajeitando os fios...
Dedos pálidos, enrubescidos como a face.
Mas a face embranqueceu quando os fios abandonaram, por conveniência, os dedos...

(Raquel Zichelle - 12/06/2012)

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Terra aguada aguarda os pés pequeninos, descalços. Pés que niños dessapatam a lama. Lama esconde alma, que escancara ama. Escarra. Esparrama. Espalha lama!
Arre – ruge a terra. Urge. Surge. Regurge. Grunhe! Gruta! Ruta! Rui... Rua!
Terra enlameada meandra os dedos. Dedinhos. Inhozinhos.
Arre... arre... arre, a terra geme. Treme. Arre... Pisa o pé. Arre... Pisa o outro. As marquinhas lamacentas assentam a terra. Aterra.
Jaz a terra já sem pés.
Seca a terra.
Secatura!
Sucata!

(Raquel Zichelle – 17/12/2012)

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Bola amarela.
- Amar ela?
- Maré lá!
A bola bóia...
- Óia!!! A bola rola no mar!
- No mar ela é ainda mais amarela!
Inda...
Indo...
Se foi...
Sói.
Sol!

(Raquel Zichelle – 17/12/2012)