domingo, 10 de março de 2013

Delírios...

Ah, Werther, quem me dera ser sua Lotte...

"Que calor percorre todo o meu ser quando por acaso meu dedo toca no dela, ou nossos pés se encontram embaixo da mesa! Afasto-os como se tivesse tocado o fogo, e uma força secreta impulsiona-me de novo... uma vertigem arrebata todos os meus sentidos!... E dizer que sua alma cândida desconhece a tortura que me infligem essas pequenas intimidades! E quando, animados pela conversa, ela pousa sua mão sobre a minha, e quando, ao conversar, ela se aproxima tanto de mim que eu chego a experimentar seu hálito celestial junto dos meus lábios... então, parece que vou cair como que fulminado por um raio..."


"Sim, pela primeira vez senti, com absoluta certeza, este pensamento delicioso abrasar o mais profundo do meu ser: 'Ela me ama! Ela me ama!' Queima-me ainda os lábios o fogo sagrado que vinha em torrentes dos seus lábios; uma ardente delícia, jamais sentida, permanece ainda no meu coração. (...) Ah! Eu sabia que você me amava! Soube desde os primeiros olhares em que transparecia a sua alma, desde os primeiros apertos de mão; (...) nenhuma eternidade extinguirá a vida ardente que aspirei ontem dos seus lábios e que ainda sinto queimar em mim. Ela me ama! Estes braços a enlaçaram, estes lábios tremeram contra os seus, esta boca balbuciou encostada à sua boca! Você é minha, Lotte; para todo o sempre!" 

Trechos d'Os Sofrimentos do Jovem Werther, de Goethe.

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O amor que eu quero não existe fora da literatura. Aqui é tudo tão morno. Eu estou morna.

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Seu sorriso tinha algo de malicioso, algo de "eu sei que você gosta de mim", e parecia se divertir com a minha tentativa em negar! Seu sorriso também tinha um quê de reciprocidade! Por segundos, senti que o sorriso me dizia: "eu também gosto de você!". E eu também sorri! Mas a certeza se dissipou, e o que você não sabe é que seu sorriso, desde então, trancafiou-me num labirinto. Eu corro entre caminhos de dúvidas, idealizações e ilusões! Talvez seu sorriso significasse apenas: "tenha um bom dia". Eu não quero acreditar nisso, porque, desesperadamente, eu quero crer que o amor que eu sempre busquei existe sim fora das páginas dos livros... Mas as evidências que batem na minha cara mostram que estou enganada: "tola!", dizem zombando! No entanto, uma pontinha em mim ainda cutuca tentando ser ouvida: "não, dessa vez você não está enganada!". Aaaah, que tortura!!! Corrói, em mim, a dúvida...

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Em meus delírios e sonhos, eu idealizei você, eu idealizei a mim mesma. Você-ideal e Eu-ideal é que ficam juntos na história. Você e Eu não. No meu imaginário, o seu sorriso é para e por mim! No meu ideário, é a minha mão que você toca. Mas fora dos devaneios, a minha mão tateia o vazio! Os meus lábios racham - secos - sem a umidade da sua boca! Nos meus sonhos, meus olhos desnudam os seus! Na minha fantasia, nós olhamos, mudos, as estrelas... e, no silêncio, nossas essências se entrelaçam! Mas fora dos delírios oníricos, o silêncio apenas nos constrange!

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"Ah, querido amigo, o que é o coração humano?". Não saberia responder, Goethe, mas, no meu, habitam todas estas inquietações... e a culpa é sua!

Um comentário:

Tally M. disse...

eu tô escrevendo uma peça... ela tá toda na minha cabeça, na verdade. ainda não consegui tirar muita coisa de lá, rs... mas, ok, sei q um dia ela sai. a primeira saiu, depois de quase 2 anos, outras sairão. enfim... enquanto eu lia seu post, não consegui tirar da minha cabeça uma fala da peça. uma das primeiras que eu escrevi e que eu tenho certeza que vai ser a que eu mais vou gostar. "mas a gente não se apaixona sempre pelo que inventa?". é isso. achei que precisava compartilhar com vc. rs
saudade da minha gêmea linda e talentosa! (as duas são, na verdade, hahaha)