quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Essa postagem vai ser bem longa, pois tenho muito que dizer.

No último ano, eu emudeci. Não fui capaz de exteriorizar o que sentia, exceto em poucos momentos, com uma ou outra pessoa (e uma delas, a minha psicóloga). Emudeci a escrita também. Quem acompanha o meu blog (quase ninguém, hehe) deve ter notado o silêncio. Eu costumava escrever bastante aqui, sempre usei meu blog como refúgio, mas no último ano, eu quase não apareci por aqui e a última publicação antes dessa é de agosto! Eu tentei desabafar as dores e aflições, tenho alguns rascunhos salvos, mas não conseguia finalizar os textos e publicá-los. Sentia que não devia tornar público os meus sofrimentos. E o que fiz nesse tempo foi apenas publicar no Recanto das Letras textos já antigos, dores antigas (embora algumas ainda existam). E tanto silêncio só poderia me levar a um caminho: o mais distante possível das pessoas. Mas eu tinha que fazer isso. Eu estava machucada, profundamente magoada, com a ferida exposta. Então, me recolhi. Fui cuidar da ferida, coloquei as bandagens e esperei até que cicatrizasse. Quietinha no meu canto. Não podia deixar que se aproximassem e infeccionassem a ferida e nem podia contaminar ninguém com a minha dor. Só que enquanto eu cuidava do machucado sem pedir ajuda a quase ninguém, as pessoas que eram próximas trataram de cuidar das suas vidas, estabelecendo laços com outras pessoas, fortalecendo a relação com elas. E eu me senti fora de tudo. Fora de sintonia. Sozinha. Acho que nunca me senti tão sozinha como no último ano. E não sei se culpo apenas a mim por ter me afastado ou as pessoas que não perceberam que eu estava sofrendo em silêncio. Não sei nem se há culpados. Mas a sensação que eu tinha era a de que eu estava colocando tijolos ao meu redor, enquanto do outro lado do muro, as pessoas colocavam cada uma seu tijolinho também. Mas talvez elas quisessem ajudar e eu também não tenha percebido. Vai ver eu deixei mãos estendidas sem resposta. Não sei. Não importa mais. Eu precisava ficar sozinha pra me curar. Pra entender a raiva que eu estava sentindo, a mágoa, a desilusão, o orgulho ferido e a vergonha. Foram meses difíceis. E agora eu preciso correr atrás do que e de quem deixei pra trás. E não sei muito bem como fazer isso. Eu já era fechada com as pessoas mesmo quando estava me sentindo bem com elas, e agora é ainda pior. Eu nem ao menos sei se elas me querem de volta. Não sei se ainda há espaço na vida delas pra mim. Eu vou ter que reconquistar esse espaço. Vou ter que me abrir, me mostrar, escancarar as minhas fragilidades, a minha vulnerabilidade. Vou ter que sair da minha redoma ou permitir que entrem nela. Eu estou com medo. Quando eu tento quebrar alguma barreira e me aproximar, eu me sinto ridícula. Fico achando que tudo o que eu falo é idiota e sem sentido. Fico achando que as pessoas estão pensando "n" coisas a meu respeito (coisas ruins). Então, eu não arrisco com medo dos julgamentos. Medo de ser rejeitada. Engraçado, temo ser rejeitada pelos outros, mas rejeito a mim mesma. Eu mesma já me condeno. Eu me acho tão sem graça. Ou me deixei acreditar nisso, por culpa daquelas pessoas que não gostavam de mim e que, sim, eu era sem graça pra elas, eu era boba, feia, esquisita pra elas. Eu fui rejeitada por elas. Mas eu não deveria dar valor ao que elas pensam a meu respeito. Eu não posso agradar todo mundo (e ainda não consegui me convencer disso, embora repita isso constantemente). Mas aquelas risadas de zombaria ainda ecoam em mim... mesmo tanto tempo depois... E eu deixo isso afetar todas (ou quase todas) as minhas relações. E eu fugi e fujo delas. E ainda me escondo usando a desculpa da "coitadinha rejeitada". É patético, eu sei. Nunca neguei que sou patética (tenho até um texto todo dedicado ao meu pateticismo).
E, como toda boa solitária que foge de relacionamentos, eu me alimento de fantasias, sonhos e idealizações. Eu criei personagens, amigos, amores. Alter ego. Dei vida a bonecos. E acredito neles. Encontrei neles uma forma de expressão. Mas quem entende uma pessoa com quase 26 anos andando pra cima e pra baixo com um leão de pelúcia (ou outros bichos de pelúcia), falando através dele, criando histórias, músicas, situações? Dizem que sou infantil. Tem um filme com o Mel Gibson que ele tem um fantoche de castor e faz o mesmo, mas eu não assisti ainda e queria mto ver, não sei direito como é a história, mas parece que ele acaba se deixando dominar pelo boneco. Não acredito que seja o meu caso. Eu cresci assim. Desde que me conheço por gente, eu brinco com meus bonecos e foi natural crescer desse jeito. Não tive a fase: “agora eu sou uma mocinha, vou trocar meus brinquedos por maquiagem”. E, sinceramente, não sei pq algumas pessoas se incomodam com o fato de eu não ter feito isso. Elas se acham muito adultas por que abandonaram seus brinquedos? Eu acho isso triste e não motivo pra orgulho. E é bastante questionável a idéia de infância e do ser adulto e o comportamento que cabe ou não a eles. Eu uso meus bonecos como uma forma de comunicação, assim como a escrita, pra tentar contornar a minha dificuldade de aproximação, de contato, de fala, de olho no olho com as pessoas. E também são companheiros. Sabe o Wilson do filme Náufrago? Então, tenho meus Wilsons também... E é isso. Às vezes me sinto envergonhada, ou até mesmo louca, por causa disso, mas é apenas eu sucumbindo ao controle que os outros querem impor sobre mim. O que eu acho prejudicial é o fato de eu ser tão sonhadora e idealizar tanto as coisas que acabo me decepcionando pq o mundo não é doce e sensível como eu gostaria que fosse. Então, eu preciso viver isso na ficção, de alguma forma. Aí eu me apego a músicas, filmes, séries, personagens... e me deixo envolver. Mas sobre isso eu escreverei outro dia (pretendo, pelo menos). Ainda tenho tanto a dizer, mas está tudo confuso. Vou tentar não emudecer outra vez e escrever os incômodos no blog como eu sempre fiz. Por ora, é isto.

6 comentários:

Heloisa Prado disse...

Ei Quel...as coisas da vida nunca saem conforme o script...entendi muito do que vc disse mas procurei colocar no meu contexto...atrizes são assim né? que bom que conseguimos exteriorizar ou até mesmo viver outras vidas em nossa profissão....mas a vida é mesmo assim...temos nossos "obscuros" e isso acaba sendo bom sabia?!!...não gosto daquelas pessoas claras demais..os desafios são ótimos, os estranhos são os melhores....amei seu texto....desabafa mais...animarei a escreve no meu blog sabia...ainda me sinto meio peter pan!!!..bjsssss

Anônimo disse...

Depois de pensar por alguns momentos, eu resolvi comentar o seu texto. E não são poucos os riscos que eu corro fazendo isso. Primeiro, porque a gente não se conhece e estou prestes a fazer um movimento muito ousado. Segundo, porque compaixão nunca ajudou ninguém – o que Dr. House já demonstrou bem, acredito.

A Heloisa – que comentou antes de mim – não entendeu nada do que você descreveu. Você sabe disso e vai me desculpar pela pretensão. “A vida é assim mesmo”, “todos temos nossos altos e baixos”, etc. etc. etc. pessoas que usam esse tipo de frase não têm noção do que se trata o problema.

A pergunta mais básica é: você quer melhorar? Acredite, nem todos querem. Se eu quero melhorar, onde eu quero chegar (como pessoa)? Como eu quero que minha vida seja? Responder essas perguntas com “objetividade” é importante. Às vezes se tem uma ideia vaga de futuro, de melhora futura, e não se sabe bem o que se quer, “aonde” se quer chegar, “como” se quer estar. Às vezes não se quer nada. Eu gosto bastante das ideias de Sartre. Você já deve ter lido “o existencialismo é um humanismo”; se não leu, indico. É um resumo das ideias existencialistas, em defesa a alguns ataques de intelectuais de outras vertentes. Enfim, voltando...

Você usa bastante no seu texto a ideia de que “eu preciso ser mais...”, “eu preciso fazer...”, “eu vou ter que...”, jogando para o futuro uma ação necessária para a mudança. Primeira pergunta: será que precisa mesmo fazer essas coisas? Por exemplo, REconquistar relacionamentos antigos: é mesmo necessário? Não seria mais vantajoso investir em relacionamentos novos? Segunda pergunta: será que esse “eu preciso fazer...” não é mais um instrumento de defesa que lhe serve como “desculpa” para não fazer?, não levar a ato uma mudança efetiva?, um modo de perpetuar esse estado de espírito?

Eu ainda acho – pelo seu texto - que você espera que as pessoas te aceitem, te recebam e te acolham. Mas veja, a meu ver você pode até ser aceita, mas se “sentir parte” é outra coisa. Não é esse o problema?: o que se sente? A profunda insatisfação? Eu fico mais pobre, eu fico mais rico: eu não mudo. Eu faço outros amigos, eu começo a frequentar outros lugares: eu ainda sou o mesmo. Só o que se “faz” traz mudança, só o que irrompe de você traz mudanças. Talvez você não faça parte do rebanho – e já saiba disso (no fundo). Talvez você precise não entrar em sintonia com algo que “já existe”, talvez você precise “criar” a partir de – você. Talvez você precise ser líder, e não seguidora. Talvez só assim se atinja algum sentido.

Blower's Daughter disse...

Vou responder aqui mesmo, assim outras pessoas que quiserem comentar podem ler a nossa troca de ideias tb.

"A pergunta mais básica é: você quer melhorar? (...) Se eu quero melhorar, onde eu quero chegar (como pessoa)? Como eu quero que minha vida seja?"

Eu quero melhorar sim. Eu quero que a timidez seja uma aliada e não me impeça de fazer as coisas que eu quero. Ainda mais que escolhi ser atriz e professora de teatro, duas profissões que exigem exposição e entrega. Eu não quero deixar de ser tímida, eu gosto sim de ser uma pessoa introvertida, pois acho que ajuda na minha criação enquanto artista. Eu li recentemente um livro que se chama A Preparação do Diretor, da Anne Bogart, e a autora fala em determinado momento sobre a timidez e que o desconforto causado pela mesma é favorável para a criação, mas é preciso não fugir do desconforto. Então, o que eu quero, é saber usar a minha timidez para criar e não deixar que ela me impeça, me trave e paralise. Eu até tenho conseguido fazer isso no teatro, nos ensaios e nas apresentações. Porém, na vida social, nas relações com os familiares e amigos, é bem mais difícil. Eu me calo e não falo o que eu penso. Então, o que eu quero, é conseguir me abrir, é falar se eu penso A ou B sobre algo, sem ficar com tanto medo do que vão pensar sobre o que eu disse e que conclusões vão tirar a meu respeito pelo o que eu falei. Não quero ser uma pessoa extrovertida e que fala demais, fala tanto que nem pensa no que fala. Eu sou blablablafóbica, hahaha, me irrita gente verborrágica. Mas gostaria sim de não me calar quando eu quiser falar, quando achar que tenho algo a acrescentar, e calar qdo eu achar que devo, afinal, o silêncio comunica também e é importante. Nas rodas de discussões que temos na faculdade, por exemplo, eu pouco me manifesto. E muitas vezes, eu tenho o que falar sobre, mas eu fico insegura, com medo de dizer bobagem. E não falo. Mas isso só prejudica o meu aprendizado, afinal, como eu vou saber se o que eu penso é besteira ou tem fundamento? Se eu não argumentar e contra-argumentar com as outras pessoas, meu pensamento vai ficar estagnado, só vou apenas receber o que os outros dizem, embora, na minha cabeça, eu esteja discordando e pensando sobre aquilo, mas seria interessante expor o meu ponto de vista também.

"será que esse “eu preciso fazer...” não é mais um instrumento de defesa que lhe serve como “desculpa” para não fazer?, não levar a ato uma mudança efetiva?, um modo de perpetuar esse estado de espírito?"

É provável que seja uma desculpa, hahaha. Porém, acho que escrevi isso tentando me convencer de que se eu não fizer eu não vou sair do lugar. Foi uma tentativa de reconhecer o que está incomodando, expor os medos, pois estavam me sufocando, pra, a partir disso, fazer algo realmente. Algumas mudanças eu já comecei.

Ah, e qto ao que vc disse sobre ser necessário reconquistar as pessoas, algumas acho que são sim, eu gosto delas e são pessoas importantes, com quem eu convivo. Porém, tenho me aproximado de pessoas novas.
E vc tem razão sobre não me sentir fazendo parte das coisas se eu sou sempre a mesma.
Qto ao final do seu texto, estou aqui pensando sobre ainda. Mas obrigada pelo comentário e pela sinceridade. E ainda não li este texto do Sartre, vou procurar.

Anônimo disse...

É, eu sabia que eu estava sendo ousado... eu corri o risco conscientemente. rs Por exemplo, eu não sabia que esse problema se centrava em "timidez". Eu tava pensando em outras coisas... mas acho que meu comentário foi bastante genérico, e acaba pegando isso também.

Só uma coisa que eu acho que ficou mal entendida. Eu não quis dizer que vc deva mudar pra se sentir parte (ou que só se sentirá parte quando mudar), o que eu quis dizer foi que fatores externos não nos mudam. Que a mudança (interna) irrompe de nós mesmos - independente dos fatores externos. Se sentir parte, no meu modo de ver, é superestimado.

Desculpa a minha ousadia. ;)

Tally M. disse...

pelo menos uma vez por mês eu entrava aqui pra ver se vc tinha atualizado... a vida é tão corrida, não dá tempo de conversar sempre com as pessoas que a gente ama, então, essa era uma forma de saber de vc. uma forma de TE ler, de me afundar nas suas belas palavras, tão bem combinadas... então, não fique achando q ninguém percebeu sua ausência. pelo menos pra mim, ela doeu. senti falta de te ver aqui. de te acompanhar por aqui.

qto aos brinquedos, queria q vc visse meu quarto, tão cheio de bichos, bonecos, pôneis, caixinhas de música da disney... tão cheio de cores. na porta dele tem uma imagem do pequeno príncipe e a frase dizendo que todas as pessoas grandes foram um dia crianças, mas poucas se lembram disso. e eu admiro muito as que se lembram, como vc. as que encontram formas de continuar sendo, seja no teatro, seja trabalhando com crianças (pois é, me cerquei de formas de fazer isso, haha).

e, pra terminar, seu blog tá lindo! como vc.

Anônimo disse...

Muito bom ler novamente um texto seu. Somos poucos, mas ainda existimos rs (seus visitantes). Sua dor, como o próprio nome já diz, aparentemente causa sofrimento ao seu ser...mas não podemos negar que ela tambem lhe dá inspiração para textos belíssimos! Força, que o tempo, bom senso e coragem há de curar qualquer ferida.